Florence + the Machine e JAY-Z foram alguns dos artistas que aderiram à moda
Henrique Nascimento Publicado em 07/01/2020, às 15h00
Uma herança de 2010 é a evolução da relação entre a música e o audiovisual: o processo de lançamento de trabalhos inéditos acompanhados por videoclipes foi levado a outro nível e artistas passaram a transformar os seus compilados inteiros em produções audiovisuais e, consequentemente, a levar a experiência dos ouvintes (e agora espectadores) para outro patamar.
O conceito não é novo. Em 1964, os Beatles lançaram seu terceiro álbum de estúdio, A Hard Day's Night, acompanhado de um filme homônimo. Alguns anos depois, a banda The Who fez o mesmo com o álbum Tommy, de 1969, e uma década depois voltou a fazer com Quadrophenia. No mesmo ano, o grupo Blondie, liderado por Debbie Harry, lançou o álbum Eat to the Beat, considerado o primeiro álbum visual de uma artista feminina.
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Ainda em 1979, o Pink Floyd lançou aquele que talvez seja um dos álbuns visuais mais famosos da história da música até hoje: The Wall, que conta a história de Pink, um personagem que sofre com a perda do pai durante a Segunda Guerra Mundial, abusos na escola, uma mãe superprotetora e um casamento que não dá certo.
Apesar de não ser novidade, a década de 2010 ressuscitou o formato e nos trouxe diversas obras que deve deixar sua marca na história como seus antecessores fizeram. Kanye West, Beyoncé e Florence Welch são alguns deles. Confira a seguir:
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My Beautiful Dark Twisted Fantasy, de Kanye West
Kanye West abriu a década dos álbuns visuais com o lançamento de um filme para o álbum My Beautiful Dark Twisted Fantasy, de 2010. Apesar de ter lançado videoclipes para sucessos como All of the Lights e Power, o rapper compilou diversas músicas de seu quinto álbum de estúdio em um curta-metragem batizado de Runaway.
Na história, estrelada por Kanye e a modelo Selita Ebanks, o média-metragem mostra o rapper encontrando-se com uma figura misteriosa, uma espécie de mulher-pássaro, após o carro em que dirigia ser atingido por uma bola de fogo.
Sem notar as diferenças entre eles, os dois acabam se envolvendo romanticamente, mas quando essas mesmas diferenças começam a trazer problemas e a mulher-pássaro sente que precisa mudar para se adaptar ao mundo de Kanye, ela precisa tomar uma decisão sobre si mesma.
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Beyoncé e Lemonade, de Beyoncé Knowles-Carter
No entanto, o boom da década aconteceu três anos depois, com o lançamento surpresa de Beyoncé, álbum auto-intitulado da artista texana, em dezembro de 2013. Apesar de ter ensaiado o conceito de álbum visual com o relançamento de B'Day, em 2007, com treze clipes para as versão de luxo do segundo álbum da carreira solo da cantora, esse foi o primeiro álbum de Beyoncé Knowles-Carter definido como visual.
Na produção, que inclui os sucessos Pretty Hurts, Drunk in Love, com a participação do rapper Jay-Z, e Mine, colaboração com Drake, Beyoncé desenhou uma linha de continuidade que, embora não deixasse claro como todos os videoclipes se ligavam, produzia o efeito de assistir a um filme.
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O conceito foi mais acertado em sua segunda produção audiovisual, Lemonade, lançado em 23 de abril de 2016 como um especial exibido exclusivamente pela HBO e disponibilizado em seguida para a plataforma de streaming Tidal. O primeiro single, Formation, já havia sido divulgado algum tempo antes, mas o álbum caiu como uma bomba no meio musical.
Beyoncé deixou de lado o pop dançante para trazer músicas e vídeos mais conceituais, englobando diversos assuntos como racismo, incluindo o genocídio e o encarceramento em massa da população negra nos Estados Unidos, além de, em uma nota particular, falar sobre uma suposta traição do marido JAY-Z.
Ao contrário de Beyoncé, o novo trabalho não foi dividido pelas músicas, mas onze capítulos que contam uma só história. A artista ainda trouxe referências à cultura africana, como ao incorporar Oxum, a deusa iorubá da sensualidade feminina, amor, e fertilidade; utilizou-se de poemas da somaliana Warsan Shire e do discurso de Malcolm X, um dos maiores e mais reconhecidos ativistas do movimento negro nos Estados Unidos; e montou um elenco formado apenas por personalidades negras, como a dupla Ibeyi, as atrizes Amandla Stenberg, Quvenzhané Wallis e Zendaya e a tenista Serena Williams.
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Straight Outta Oz e Forbidden, de Todrick Hall
Quem também trouxe um trabalho audiovisual em 2016 foi Todrick Hall, ex-American Idol que ganhou sucesso bem longe dos palcos do reality show. Inspirado no clássico O Mágico de Oz, Todrick cantou sobre problemas sociais que o atingiam e a seus pares, como racismo, violência policial e homofobia em Straight Outta Oz.
No álbum, Todrick inspira-se na história e nos personagens do clássico de L. Frank Baum para contar a sua própria história: a infância religiosa, a descoberta de sua homossexualidade, seu relacionamento com a música, a partida para a terra mágica de Hollywood para atingir o seu sonho de ganhar dinheiro através do seu talento e os desafios e os problemas enfrentados nessa jornada.
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Além disso, trata de temas delicados, como o racismo, a violência policial contra comunidades negras nos Estados Unidos e os massacres provocados pelo livre comércio de armas de fogo no país, lembrando as mortes de Trayvon Martin, morto a tiros por um vigilante de bairro enquanto saía de casa para comprar doces, em 2012; da cantora Christina Grimmie, assassinada durante um encontro com fãs após um de seus shows, em 2016; e as mais de 50 vítimas do atentado à boate LGBTQIA+ Pulse, em Orlando, na Flórida, também em 2016.
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Dois anos depois do lançamento de Straight Outta Oz, Todrick lançou mais um álbum visual: diferente do anterior, Forbidden foca em uma história criada pelo artista, onde as pessoas vivem em um mundo "invertido": negros estão no topo, as pessoas só vivem relacionamentos homoafetivos e é proibido ser heterossexual. O protagonista da história é Nolon Renner, um perigoso e procurado criminoso. Seu crime? Apaixonar-se por uma mulher.
O rapper usa a história para subverter temas como o racismo e a homofobia, colocando as experiências com preconceito e discriminação em pessoas brancas e heterossexuais. Em pouco mais de 90 minutos de filme, para citar alguns exemplos, Todrick apresenta uma sociedade que desencoraja a prática de esportes e estimula a cultura; onde meninos vestem rosa e meninas vestem azul; onde um branco pode sair para tomar sorvete e acabar morto pela polícia; onde a maioria das pessoas encarceradas têm a pele clara; e onde artistas brancos têm que se esforçar diversas vezes mais para fazer sucesso do que os negros.
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How Big, How Blue, How Beautiful, de Florence + the Machine
Nos mesmos moldes de Kanye West, a banda britânica Florence + and the Machine, liderada por Florence Welch, transformou seu terceiro álbum de estúdio How Big, How Blue, How Beautiful no média-metragem The Odyssey, lançado em 2016.
Sucessos como Ship to Wreck, What Kind of Man, Delilah e a faixa-título do álbum embalam a história de um relacionamento amoroso que chega ao fim e, a partir do acontecimento, uma das partes passa a reavaliar a relação para entender o que aconteceu e, aos poucos, percebe que eles não foram feitos um para o outro.
Para muitos, o filme é considerado uma obra-prima e, ao assisti-lo, fica difícil contestar a afirmação:
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4:44, de JAY-Z
No seu 13º álbum, 4:44, considerado um dos mais íntimos já produzidos por JAY-Z, o rapper decidiu lançar curtas-metragens para as músicas do álbum, contando com diversas participações especiais e tratando de variados assuntos.
Em The Story of O.J., por exemplo, JAY-Z recupera a famosa frase do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson ("Eu não sou negro, sou o O.J.") para reafirmar sua negritude. Em Smile, parceria com a mãe Gloria Carter, o rapper fala sobre a sexualidade da matriarca da família, que revelou-se lésbica tarde na vida, "vivendo feliz, mas não livre", como ela mesmo descreve.
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Ele também fala sobre amor na faixa-título do álbum e confessa seus pecados ao abordar traição em Family Feud, parceria com a esposa Beyoncé Knowles. Como crítica à branquitude que predomina na indústria cinematográfica e televisiva, JAY-Z recria a série Friends com atores negros em Moonlight; além de também falar sobre a criminalização de corpos negros em Marcy Me.
O álbum conta com participações de atores de peso como Michael B. Jordan (Pantera Negra), Thandie Newton (Westworld), Jessica Chastain (A Grande Jogada), Brie Larson (Capitã Marvel), Rosario Dawson (Os Defensores), Rashida Jones (Parks and Recreation), Mindy Kalling (The Office), Jesse Williams (Grey's Anatomy), Mahershala Ali (Moonlight: Sob a Luz do Luar) e Lupita Nyong'o (Nós).
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Os álbuns visuais brasileiros: Linn da Quebrada, Anitta, Tiago Iorc e Gloria Groove
Artistas brasileiros também aderiram à moda dos álbuns visuais: ao lançar seu primeiro álbum, Pajubá, em 2017, Linn da Quebrada também lançou uma série de clipes conceituais que acompanham as músicas do trabalho, que conta com participações especiais de Mulher Pepita e Liniker Barros, da banda Liniker e os Caramelows.
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Em sua primeira incursão internacional, Anitta lançou seu quarto álbum, Kisses, em 2019, com músicas em português, inglês e espanhol e participações de Ludmilla, Snoop Dogg, Becky G, Caetano Veloso e Alesso, entre outros. Para projetar ainda mais o trabalho, gravou clipes para todas as músicas, transformando a experiência em um álbum visual:
Tiago Iorc ficou um tempo sumido, mas retornou à cena musical com o lançamento de Reconstrução, em maio de 2019. Junto com o lançamento, o artista também lançou um filme homônimo, com uma interpretação audiovisual do seu trabalho:
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Por fim, a última artista a se juntar ao time foi a drag queen Gloria Groove, com seu EP Alegoria, lançado em novembro deste ano. Junto com o lançamento, a cantora revelou que todas as quatro músicas da produção seriam transformadas em clipes que, de certa forma, relacionariam-se:
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