Intriga e política são centrais no jogo de poder de Conclave - Divulgação/Diamond Films
CRÍTICA

Intriga e política são centrais no jogo de poder de Conclave | #CineBuzzIndica

Com direção de Edward Berger, de Nada de Novo no Front, Conclave adapta best-seller homônimo de Robert Harris e chega aos cinemas nesta quinta-feira (23)

ANGELO CORDEIRO | @OANGELOCINEFILO Publicado em 23/01/2025, às 13h00

Inicialmente, Conclave, novo longa de Edward Berger (Nada de Novo no Front), pode parecer uma obra voltada aos rituais de uma eleição papal, mas rapidamente se revela uma exploração complexa do poder, da moralidade e das intrigas políticas que permeiam a Igreja Católica. É como se adentrássemos um dos lugares mais protegidos e secretos do mundo e acompanhássemos, como um reality show, a escolha do novo Papa. E claro, como qualquer jogador de reality, aqueles homens também possuem suas artiminhas para vencer.

O filme se desvia da ideia de um drama religioso convencional ao mergulhar em um suspense político que se desenrola através das interações, "panelinhas", e provocações entre os cardeais postulantes ao cargo vago. Berger cria uma narrativa envolvente, que se permite ser irônica e sarcástica, na qual a luta pela preservação ou transformação das tradições religiosas se misturam com as falhas humanas e a busca por poder. O que é melhor para o futuro da Igreja? A ambição dos que querem o cargo? Retroceder ao conservadorismo de 40 anos atrás? Escolher um Papa liberal que apoia pautas pró-LGBT e pró-mulheres? Ou apostar no incerto?

Lawrence, personagem de Ralph Fiennes (A Lista de Schindler), é o grande centro emocional da trama, uma figura de integridade que se vê constantemente desafiada a manter seus princípios enquanto lida com a política interna da Igreja - ele é o responsável por conduzir o conclave do título. Sua atuação capta a complexidade de um homem dividido entre sua honestidade e o peso das expectativas institucionais. O dilema moral de Lawrence torna-se o motor da narrativa, tornando claro que suas escolhas vão além de simples questões de fé, envolvendo também o confronto entre a fé genuína e os jogos de poder promovidos por aqueles que compõem a Igreja.É curioso como ele está alheio a essa ironia do roteiro, representando esse homem que circula pelos corredores do Vaticano sempre atrás do sério e do correto. 

Embora Conclave explore os bastidores da eleição papal, o filme não se limita a ser uma análise fria sobre o ritual religioso, abordando também questões políticas e sociais contemporâneas, como a diversidade dentro da Igreja Católica, a tensão entre vertentes progressistas e conservadoras e o papel das mulheres - aqui, com foco nas freiras - sempre com tiradas pontuais e muito bem-vindas, como “eu seria o Richard Nixon dos papas” dita por um candidato que se recusa em usar documentos roubados para tirar outro candidato da disputa.

Ainda que as mulheres não tenham papéis centrais na trama, sua presença, representada principalmente por personagens como a freira de Isabella Rossellini (Veludo Azul) e a freira que causa confusão em uma cena no refeitório onde os papas fazem suas refeições, acrescenta uma camada de provocação e reflexão sobre o papel da mulher dentro da Igreja. Essa abordagem ousada e desafiadora traz uma modernidade ao filme, que não perde a chance de apimentar a discussão, sem jamais perder a séria abordagem nas complexidades da Igreja e suas estruturas. 

Isso se edifica na fotografia, utilizando a arquitetura imponente do Vaticano para refletir a rigidez da Igreja. A simetria dos planos e o contraste entre o branco e o vermelho reforçam a tensão entre o conservadorismo da instituição e as fragilidades humanas de seus representantes. A câmera reverencia os salões grandiosos e também sugere a fragilidade dos próprios cardeais, criando uma dinâmica interessante entre o poder físico e o poder moral que eles representam. 

Em suma, Conclave oferece uma visão crítica e pontualmente ácida sobre a Igreja enquanto uma instituição de poder, mostrando que as questões que ocorrem dentro dos muros do Vaticano ainda são afetadas pelas bombas que explodem no mundo lá fora, por mais que eles se isolem e tentem não se afetar pelas pautas progressistas e demais religiões presentes no mundo. Há ainda uma surpreendente revelação final que é uma cereja no bolo em tom de escárnio que o roteiro de Peter Straughan (O Espião Que Sabia Demais) já vinha apresentando desde o início, demonstrando que Conclave não apenas propõe uma reflexão sobre as estruturas de poder que ainda moldam a sociedade moderna, sendo também uma obra que alfineta uma eleição levada tão a sério. 

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