“Jurassic World: Domínio” une passado ao presente e encerra franquia em forma de tributo - Divulgação/Netflix/Universal Pictures
CRÍTICA

“Jurassic World: Domínio” une passado ao presente e encerra franquia em forma de tributo | #CineBuzzIndica

Encerramento da trilogia "Jurassic World" chega aos cinemas nesta quinta-feira (2)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 31/05/2022, às 09h43

Quando “Jurassic Park” foi lançado, em 1993, o cinema presenciou um fenômeno: o filme de Steven Spielberg se tornou a maior bilheteria da história até então, faturando algo em torno dos 900 milhões de dólares no mundo todo. Números que, hoje em dia, nem são tão exorbitantes se olharmos para as arrecadações dos blockbusters lançados nos últimos anos, mas que na época salvaram a Universal Pictures de uma crise.

Bem da verdade, “Jurassic Park” foi além de ser apenas um fenômeno de bilheteria. Ele pode ser classificado como o filme definitivo sobre dinossauros, teve sequências que continuaram - e continuam - faturando na casa dos milhões, e até dos bilhões, foi alçado ao status de marca e, a exemplo de “Star Wars”, virou fenômeno da cultura geek, ganhando até sua própria atração de parque em Orlando - não com dinossauros, é claro.

Desde o lançamento de “Jurassic Park 3”, em 2001, os fãs sempre especulavam quando outro filme da franquia seria lançado. E, em meados de 2013, a Universal Pictures decidiu finalmente trazer o parque de volta às telonas com o lançamento de “Jurassic World” programado para 2015. Resultado: mais um sucesso de bilheteria, a segunda maior daquele ano, ficando atrás apenas de “Star Wars: O Despertar da Força”.

Os mais de 1 bilhão e meio de dólares das bilheterias praticamente oficializaram a sequência “Jurassic World: Reino Ameaçado”, lançada em 2018, mais um blockbuster que encheu os cofres da Universal com seus 1 bilhão e 300 mil dólares arrecadados mundialmente. É a fórmula perfeita para os estúdios. No entanto, o que sempre faltou às sequências de “Jurassic Park” eram histórias que se aproximassem do tom de aventura, perigo iminente e originalidade que o primeiro possui - e que até hoje funciona exemplarmente. E muitas destas sequências se apegavam a elementos do “Jurassic Park” original.

“O Mundo Perdido” funciona quase como um spin-off de “Jurassic Park”, pois dá ao personagem Ian Malcolm (Jeff Goldblum) um filme para ele protagonizar. “Jurassic Park 3” resgata o Alan Grant de Sam Neill apelando para o saudosismo dos fãs do personagem. Em “Jurassic World”, o diretor Colin Trevorrow até que arriscou e não utilizou personagens clássicos da franquia, mas apostou em uma prática que muitos criticam: emula o filme de 1993 e o homenageia a partir de cenas reimaginadas, algo que o recente “Top Gun: Maverick” realizou com louvor. O que para alguns foi motivo de crítica, para outros, era um retorno empolgante e bem ritmado de uma aventura digna de “Jurassic Park”.

Infelizmente, muito desse tom se perdeu em “Jurassic World: Reino Ameaçado”, um filme sisudo com diversas escolhas precipitadas. O enredo se enfraquece com a fuga da ilha Nublar, os personagens humanos não cativam - alguém torceu por algum deles? - e nem mesmos os novos dinossauros foram apresentados de forma ameaçadora ou simpática, afinal, essa é parte da graça da franquia, conhecer dinos que, das duas uma, ou botam medo ou são fofinhos. Coube então a “Jurassic World: Domínio” encerrar a nova trilogia resgatando o que a franquia sempre teve de melhor: seu tom de aventura, personagens cativantes, dinossauros simpáticos e também ameaçadores.

O novo filme se passa quatro anos após a destruição da ilha Nublar. Agora, os dinossauros vivem e caçam ao lado dos humanos e demais animais em todo o mundo. Owen (Chris Pratt), Claire (Bryce Dallas Howard) e Maisie (Isabella Sermon) vivem isolados. Uma praga criada em laboratório ameaça plantações e pode colocar a vida do planeta em risco. Uma nova empresa de genética aparece na jogada enquanto passado e presente se unem para salvar o dia.

Sejamos francos, “Jurassic Park” sempre teve ideias absurdas em suas premissas, do parque de dinossauros do primeiro filme, passando pela ideia de levar os animais para o continente em “O Mundo Perdido”, até o leilão de animais em “Jurassic World: Reino Ameaçado”. Apesar disso, tais ideias absurdas sempre foram concebidas devido à ganância humana de lucrar. Talvez, apenas o sonho de John Hammond (Richard Attenborough) em ver seu parque funcionando seja a mais pura das ideias no meio de tanta ganância.

Ganância que obviamente retorna em “Jurassic World: Domínio” e arrisco dizer que, dos seis filmes da franquia, o enredo deste é o que melhor explora o fator ciência, tecnologia e genética para além dos dinossauros. Aqui, a empresa Biosyn, diferentemente da rival InGen - responsável pela administração do parque Jurassic World no filme anterior -, não criou nenhum híbrido de dinossauro, mas sim uma praga que foge de seu controle - é claro - dizimando plantações e colocando em risco todo o planeta.

Mas a ideia por trás da Biosyn é mera desculpa para criar um background no filme, afinal, o que interessa ao espectador saudosista é aquilo que os filmes anteriores custaram em entregar: retornos triunfantes dos personagens do longa original. E nada mais prazeroso do que rever o trio Alan Grant (Sam Neill), Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum) dessa vez juntos, não apenas em participações especiais ou sendo mal explorados, mas com propósito dentro da narrativa. É claro que a idade já não os deixa participar da ação de forma mais efetiva, algo que fica a cargo do núcleo liderado por Chris Pratt, Bryce Dallas Howard e DeWanda Wise. Eles correm mais riscos, pilotam aviões e motos, enfrentam dinossauros - e fogem quando não resta alternativa -, lutam com contrabandistas e, por força do destino - e do roteiro - também acabam parando na Biosyn.

É curioso observar como o trio “das antigas” praticamente ganha um filme dentro do filme só para si: Alan e Ellie vivem momentos lado a lado que nem mesmo “Jurassic Park” proporcionou - e que as sequências minaram com a personagem de Laura Dern se casando; Ian Malcolm ressurge como o galã que desfila seu charme, sua camisa aberta e seu humor pontual; enquanto o novo trio é mais heróico: o Owen de Chris Pratt foge de aliraptores em sua moto, naquela que é uma das melhores sequências do filme; a personagem Kayla, de DeWanda, tem o espírito de Indiana Jones e Han Solo; e a Claire de Bryce Dallas sofre maus bocados com um dos novos dinossauros, o giganotossauro. 

Essa união entre passado e presente faz bem a “Jurassic World: Domínio”, afinal, é uma grande despedida. O filme se mostra ousado ao investir em conceitos sobre a exploração genética, que sempre fez parte da franquia, dessa vez apontando não apenas para os dinossauros, mas também mostrando como a ganância dos poderosos pode colocar em risco todo o mundo. Ainda que certas decisões sejam questionadas, como dar à garotinha Maisie tanta relevância após uma introdução péssima no filme antecessor, ao final, “Jurassic World: Domínio” encerra muito bem o ciclo iniciado em 1993, unindo passado e presente em um empolgante tributo à própria franquia.


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