Em entrevista, Esmir Filho fala sobre convite para escrever e dirigir a cinebiografia do artista, que já está em cartaz nos cinemas
Camila Gomes (@camilagms) Publicado em 02/05/2025, às 16h30
Era o auge da pandemia quando Esmir Filho (Boca a Boca) recebeu o convite da Paris Filme e da Paris Entretenimento para escrever o roteiro e dirigir Homem com H, cinebiografia de Ney Matogrosso que já está em cartaz nos cinemas.
Ao aceitá-lo, o primeiro passo do cineasta foi ouvir a discografia do artista em ordem cronológica e estabelecer um recorte que fizesse sentido para a história que seria contada nos cinemas. Porém, ele encontrou esse arco ao ler o livro de memórias “Vira-Lata de Raça”, escrito por Ramon Nunes Mello, que inicia com a frase: “Eu sempre reagi ao autoritarismo".
A obra começa abordando a complexidade da relação de Ney com o pai desde a infância e a cobrança para “aprender a ser homem”. A partir dessa inspiração, Esmir desenhou um protagonista com um desejo de ser artista desde criança e todas as figuras de autoridade, que tentaram ofuscá-lo em seu caminho, foram como obstáculos para Ney ultrapassar e se tornar o artista que é, com a liberdade que emana.
"Foi um presente para mim”, disse em entrevista à Rolling Stone Brasil, parceria de CineBuzz. “Sempre procurei levantar questões sobre afetos, relacionamentos, sexualidade, desejo, o som dos corpos, fisicalidade. Recebi essa possibilidade de escrever a história desse artista e falei: 'Nossa, tem tudo a ver com os temas que eu gosto de conversar no cinema'”.
Ao todo, a produção conta com 17 músicas, sendo 15 parte do repertório do intérprete, que desenharam “a coluna vertebral do filme” e são partes essenciais da narrativa. “A medida que eu ia elaborando cada fase da vida do Ney, ia colocando como ele se relacionava com aquela música. Enquanto você vai vendo Ney no palco, vendo ele cantar, performar cada música, você vai entrando na vida e conhecendo a jornada dele, tanto artística quanto íntima”, explica.
A cinebiografia contou com o aval de Ney Matogrosso, que colaborou com o roteiro de Esmir e leu 12 versões do projeto. Desde as primeiras conversas que tiveram, trabalharam juntos para resgatar diálogos e transmitir com sinceridade as diferentes fases, relacionamentos e a trajetória com uma riqueza de detalhes. “O Ney tem uma memória precisa. Ele lembra de tudo, tá? Mas é claro que existem lapsos, existem lacunas, e aí precisava entender o sentimento de cada cena”, explica.
Quem assume o posto de protagonista em Homem com H é Jesuíta Barbosa (Tatuagem), que impressionou o público com sua transformação para o papel logo quando os primeiros materiais de divulgação do filme foram liberados. O processo de construção do personagem foi feito aos poucos e contou com a participação de diversos profissionais. “Eu falei para ele: ‘Jesuíta, chega sem contornos. Vamos desenhar esse contorno junto’”, relembra Esmir.
Para isso, a equipe contou com cinco frentes: preparação de elenco com Roberto Áudio, que colocou Jesuíta em situações que Ney viveu; a preparação do corpo de dança com o bailarino e coreógrafo Cristian Duarte, para entender como o cantor se movimenta e prepara para o palco; aulas de canto e prosódia; a preparação física para ajudar Jesuíta a perder peso e chegar no corpo de Ney; e por fim, a caracterização feita pelo maquiador e caracterizador Matias Trujillo e pela figurinista Gabriela Amarra.
"Quando ele passava por toda essa frente de preparação e chegava no camarim, se maquiava como Ney, colocava pelo no peito, a peruca, uma prótese que fizeram especialmente para ter os dentes separados, e chegava no set, era JesuNey", brincou.
O nosso interesse era de dentro para fora e, de dentro, ele já tinha uma modulação Ney. Os dois são artistas performáticos, são pessoas muito íntegras, que são muito reservadas no cotidiano. Mas eles são explosões quando estão no palco ou em cena. Eu sempre achei que eles exalavam o mesmo perfume”.
Desde o início do projeto, Ney frisou a importância de fazer um filme sem mentiras e sem nenhum pudor ao retratar a sua vida e as suas relações familiares e amorosas. E conforme vemos a ascensão da sua carreira artística nas telas, conhecemos também suas paixões, como o cantor Cazuza (Jullio Reis, S.O.S.: Mulheres ao Mar 2) e o médico Marco De Maria (Bruno Montaleone, Perdida).
O diretor conta que o elenco trabalhou com dois coordenadores de intimidade, que atuaram para ajudar a estabelecer limites, deixá-los confortáveis e confiantes nas cenas de sexo e nudez, filmadas com o set reduzido.
Além disso, Esmir destaca que a intimidade do cantor não está presente na trama de forma gratuita. Todas possuem sentido narrativo dentro de cada cena. “Estamos falando da primeira vez do Ney primeiro. Depois, vamos para um momento onde ele se joga num turbilhão de corpos, porque ele não quer estar com ninguém. Ele não quer que ninguém acorde o dia seguinte na cama dele. Estamos mostrando um Ney desapegado, talvez até com medo do compromisso,. E aí ele se encanta pelo Cazuza, vem o primeiro amor e como é o sexo com o primeiro amor, com paixão, com tesão e com transcendência?”.
Não são só corpos se expondo. Eles estão contando uma história quando estão vivendo aquela cena de sexo. Existe um processo muito respeitoso dessas cenas e que, para Ney, sexo é vida e é isso que eu quis mostrar. Ele constrói afetos através da cenas de sexo e de corpo também. A sensualidade é inerente ao nosso corpo”.
Homem com H não tem medo de usar cores ao recriar o passado nas telonas. Essa foi uma preocupação que começou na direção de arte de Thales Junqueira. “Ele tinha uma ideia muito bonita que ele falava: ‘O problema é que tem muito filme que, quando vai falar do passado, é cromofóbico’. Eu nunca tinha ouvido falar isso. Eu adorei. Tem [gente que tem] medo de colocar cor porque acha que o passado é preto e branco, acha que o passado é sépia, que o passado é esmaecido e o passado é muito mais colorido que hoje”.
Das sequências nas praias cariocas às performances em diferentes estados brasileiros, o filme exala vida. Juntos, as atuações, a direção, o movimento de câmera, a fotografia, a iluminação e os cenários potencializam a experiência do público. “Tudo foi construído com tanto afinco e com tanta paixão, que transborda na tela, como se você estivesse lá. [...] É como ir ao show do Ney, mas você vai ao cinema. Só que você volta com ele para casa”.
LEIA A MATÉRIA ORIGINAL EM: Diretor de Homem com H detalha transformação de Jesuíta Barbosa em Ney Matogrosso: 'São explosões no palco ou em cena'
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