"Um reencontro do público com Luiz Melodia", afirma diretora do documentário Luiz Melodia - No Coração do Brasil - Divulgação/Embaúba Filmes
ENTREVISTA

"Um reencontro do público com o artista", afirma diretora do documentário Luiz Melodia: No Coração do Brasil

Com distribuição da Embaúba Filmes, Luiz Melodia - No Coração do Brasil chega aos cinemas a partir desta quinta-feira, dia 16 de janeiro

ANGELO CORDEIRO | @OANGELOCINEFILO Publicado em 14/01/2025, às 13h00

Luiz Melodia - No Coração do Brasil, documentário produzido pela bigBonsai, em coprodução com a MUK, apresenta ao público a história do artista que desafiou normas da indústria e da própria cultura brasileira ao abraçar, sem medo, sua liberdade musical e originalidade.

O longa chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, dia 16 de janeiro, e a Rolling Stone Brasil, parceria de CineBuzz, conversou com a diretora Alessandra Dorgan, além de Patricia Palumbo, responsável pela direção musical do projeto, sobre o processo de concepção e produção do documentário. Confira a seguir:

Como nasceu a ideia de fazer um documentário sobre Luiz Melodia e quanto tempo durou cada fase do processo, desde pesquisa, produção até a montagem?

Alessandra Dorgan: No total foram quase 7 anos. O processo começou após a morte de Luiz Melodia, em 2017. Patrícia Palumbo e eu, já amigas e colegas, discutíamos projetos em conjunto. Patrícia, uma jornalista musical e pesquisadora com 41 anos de carreira, trouxe a ideia de homenagear o Luiz. Com o apoio de Jane Reis, viúva de Luiz e produtora associada do filme, começamos a desenvolver o projeto. Ela abriu sua casa, trouxe acervos pessoais e liberou direitos autorais das músicas, algo essencial para viabilizar o filme, que conta com mais de 30 músicas e é 100% de arquivo.

Qual foi o ponto de partida do filme?

A. D.: Patrícia possuía uma entrevista em áudio com Luiz Melodia, feita em 2001, com cerca de duas horas de duração. Esse material foi fundamental para começar. Na entrevista, Luiz falava sobre espiritualidade, processo criativo, origens, influências musicais e desafios. Essa voz íntima de Luiz guiou a narrativa e a construção do filme.

Como foi o processo de pesquisa e levantamento de materiais?

A. D.: A primeira etapa de pesquisa foi a mais demorada, levando cerca de três anos. Contratamos Camila Camargo, pesquisadora de cinema, que mapeou acervos como TV Cultura, Globo, Cinemateca e Arquivo Nacional. Além disso, utilizamos o acervo pessoal de Jane Reis, que incluía fitas, DVDs, mini-DVs, CDs e VHS. A biografia de Toninho Vaz também ajudou a compreender melhor a trajetória de Luiz.

"Um reencontro do público com Luiz Melodia", afirma diretora do documentário Luiz Melodia - No Coração do Brasil (Divulgação/Embaúba Filmes)

Quais foram os desafios enfrentados durante o processo?

A.D.: Houve dificuldades em levantar recursos, especialmente em um momento sombrio para o cinema brasileiro, com a Ancine enfrentando problemas. Inicialmente, éramos apenas Patrícia, Daniel Gaggini e eu. Posteriormente, trouxemos a Big Bonsai como coprodutora. Outro desafio foi garantir materiais de arquivo suficientes para contar a história de Luiz. Algumas lacunas, como registros da infância e da carreira inicial, foram preenchidas com pesquisa adicional em filmes nacionais da época.

Patricia, como foi a experiência como diretora musical do filme?

Patricia Palumbo: Foi a minha primeira experiência assinando a direção musical de um filme, e foi especialmente emocionante por se tratar de um artista que admiro profundamente. A música foi tratada como parte essencial da narrativa, ganhando movimento e corpo na tela grande, com som alto e envolvente. O resultado final é exatamente a história que eu gostaria de contar sobre Luiz Melodia.

Como foi o trabalho na montagem do filme?

A. D.: A montagem teve um primeiro momento intenso de três meses. Trabalhamos com Joaquim Castro, nosso montador, para organizar os arquivos e estruturar a narrativa. Identificamos lacunas e buscamos preencher com materiais de filmes como Betânia Bem de Perto, Rio 40 Graus, de Cacá Diegues e filmes do Cinema Marginal.

Voltamos para a ilha [de edição] quase um ano depois, tentando continuar e conseguindo recursos. Nesse período, tudo ficou muito depurado, pois conversamos muitas vezes sobre as questões do filme, o que estava problemático e o que faltava. Conseguimos um dinheiro do PROAC de finalização, que nos salvou no final. Quando voltamos à ilha, em duas semanas conseguimos fechar o corte do filme. Isso já era fim de 2023, mas ainda faltava toda a finalização, e fomos selecionados para o [festival] É Tudo Verdade.

"Um reencontro do público com Luiz Melodia", afirma diretora do documentário Luiz Melodia - No Coração do Brasil (Divulgação/Embaúba Filmes)

O que significou a seleção para o festival É Tudo Verdade? E como foi a recepção do público?

A. D.: Foi um grande presente para nós. O É Tudo Verdade é um festival importante, uma janela para fora do Brasil, com muitos curadores internacionais. Ficamos muito felizes e corremos para finalizar o filme, pois já tínhamos uma data, que era abril de 2024. O público teve uma procura muito grande pelo filme, o que nos emocionou. Normalmente, o encerramento do festival ocorre em uma sessão, mas o filme teve duas sessões na Cinemateca, uma na Sala Itaú no dia seguinte e outra no Rio de Janeiro, algo inédito. As pessoas saíram muito emocionadas.

E o caminho por outros festivais?

Alessandra: Em seguida do É Tudo Verdade, participamos de outros festivais, como Buenos Aires (Bafici), onde fomos muito bem recebidos, inclusive por pessoas que não conheciam o trabalho do Luiz. Também participamos do In-Edit, ganhamos prêmio, e a sessão foi lotada com gente ficando de fora no Cinesesc.

Como vocês enxergam a recepção do público ao filme e por que ele impacta tanto?

A.D.: É um reencontro do público com Luiz Melodia e, ao mesmo tempo, uma inspiração. Muitas pessoas se identificam com o sonho e a persistência dele, que enfrentou estigmas ao longo da carreira, mas nunca perdeu sua ternura e doçura. Acho que o filme conecta as pessoas à loucura que é viver de arte no Brasil. Ele mostra a força do Luiz como artista, alguém que saiu do [bairro carioca do] Estácio, sabia o que queria e foi atrás dos seus sonhos, apesar das dificuldades.

P. P.: Desde o início, eu acreditava que esse filme seria lindo. Apesar das dificuldades e do meu desconhecimento de cinema, sempre tive muita confiança no trabalho. Cada sessão era emocionante e me mostrava como estávamos entregando algo muito bonito e bem-feito. Entregamos um filme muito bem pesquisado e com profundidade, que respeita a história do Luiz. Para mim, a entrega é o próprio resultado, e fizemos isso com muita verdade.

Como vocês acreditam que Luiz Melodia reagiria ao documentário, se pudesse assisti-lo?

P. P.: Olha, eu espero que muito bem. Mas eu acho que ele ia gostar. Pelo que conheço dele e pelos encontros que tivemos, acredito que mostramos ele de forma tão bonita. Ele tinha consciência dessa beleza e da força da palavra dele. Ele fala das canetadas, e chamamos atenção pra isso no filme. A poesia está ali. Ele era um poeta do Estácio, ainda que não fosse formalmente um poeta. Eu gosto de acreditar que ele gostaria muito, sim.

A. D.: Eu acho que é mais até. Eu sou do santo e descobri depois que o Luiz também era. A Jane me falou que ele é um filho de Xangô, e isso fez todo sentido pra mim. Acho que o Luiz abençoou demais esse filme. De verdade, acho que de onde ele estiver, ele deve ficar muito emocionado. Nós nos emocionamos com a reação do público na saída das sessões. É muito forte. Fui ao Recife apresentar o In-Edit lá, que tem uma versão itinerante, e as pessoas vinham me abraçar chorando. É tão lindo isso. Eu nunca imaginei que passaria por isso num filme de música. Tenho certeza de que, de alguma forma, ele abençoa e está por nós, ajudando a abrir esse caminho na foice.

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