"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", lançado na HBO Max, conta a história de um dos crimes mais polêmicos do Brasil
Henrique Carvalho-Nascimento | @hc_nascimento Publicado em 07/11/2022, às 04h00 - Atualizado às 09h30
Condenado pelo assassinato de Daniella Perez, Guilherme de Pádua morreu aos 53 anos. Há alguns meses, o seu nome voltou à tona após a estreia de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", série documental da HBO Max sobre o crime que chocou o Brasil, que relembra que o ex-ator se incomodava com a suspeita das pessoas de que ele era gay.
Na série, revisitamos o passado de Pádua e descobrimos, através de depoimentos dos entrevistados e em imagens recuperados do próprio, que o ex-ator se revoltava sempre que o lembravam de seu passado como stripper na noite carioca, acusações de que atuava como garoto de programa antes da fama e dúvidas sobre a sua sexualidade, que deixavam no ar a possibilidade de ele ser gay.
Antes de conseguir o papel de Bira na novela "De Corpo e Alma", Pádua havia trabalhado em peças teatrais com conteúdos homoeróticos, como era o caso do musical "Blue Jeans", na companhia de Maurício Mattar. Nessa época, relembra o ator, o colega costumava assediá-lo quando estava nu e pedia para ver o seu pênis:
“Sempre que eu ia trocar de roupa, o Guilherme colava em mim, ficava olhando de banda e até mesmo pedia para eu mostrar meu pênis. Lembro que na época da [peça musical] 'Blue Jeans', ele vivia assediando homens, como se fosse doença, compulsivamente. Era muito desagradável", relembrou Mattar em entrevista à Istoé.
"Ele contou que transava com homens desde que chegou ao Rio de Janeiro, onde acontecia a apresentação da peça. Pelo visto era bi. Ele dizia que para subir na vida transaria com quem fosse preciso”, ainda disse o ator. Pádua também havia trabalhado como stripper em uma boate de Copacabana, no show "A Noite dos Leopardos", e costumava se prostituir para crescer na carreira, conforme relembram conhecidos da época.
Por fim, três anos antes do crime, entrou em circulação um filme erótico gay germano-brasileiro com o ex-ator no elenco. Em "Via Appia", Frank, um homem vivendo com o HIV, retorna ao Brasil para tentar reencontrar o homem que, supostamente, o infectou com o vírus. Para ajudá-lo, ele contrata um garoto de programa, José, papel de Pádua na produção.
Pádua é um dos rapazes desnudados pelo roteirista e diretor do longa, Jochen Hick. Em sua principal aparição, José aparece em um apartamento, posando completamente nu e sensualmente para as câmeras de um fotógrafo. Em um dos momentos, ele chega a abrir e derramar todo o conteúdo de uma garrafa de champanhe sobre o próprio corpo.
Em um dos momentos do documentário, é exibido um trecho de uma entrevista em que Pádua é identificado como o assassino confesso de Daniella. Nas imagens, ele diz que as pessoas tentavam "denegrir" a imagem dele afirmando que ele era homossexual. Em seu depoimento, Glória Perez, mãe de Daniella, apontou o fato de o ex-ator estar tranquilo em ser visto como um assassino, mas não como gay.
Em 28 de dezembro de 1992, Guilherme de Pádua, colega de elenco de Daniella na novela "De Corpo e Alma", emboscou a atriz e, com a ajuda da então esposa, Paula Nogueira Thomaz, matou a intérprete de Yasmin com diversas punhaladas, antes de abandonar o corpo em um matagal na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Na época, ela estava no auge de sua carreira e justamente na novela do horário nobre, em que formava um par romântico com Guilherme, seus problemas começaram. Na série, conhecemos o passado do ex-ator, a obsessão que ele tinha em ser famoso e as perseguições a Daniella, que resultaram no crime.
O corpo de Daniella foi encontrado em um terreno baldio, no Rio de Janeiro, com as feridas causadas por tesoura. Ao todo, a perícia totalizou 18 apunhaladas. Guilhereme e Paula foram condenado a 16 e 19 anos de prisão, respectivamente, em 1997, mas tiveram a pena reduzida para seis anos.
Dirigido por Tatiana Issa e Guto Barra, "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" traz depimentos de Gloria Perez, Raul Gazolla, viúvo de Daniella, Maurício Mattar, Claudia Raia, Fábio Assunção, Cristiana Oliveira e Eri Johnson, Marieta Severo, a jornalista Glória Maria e de alguns membros da família Perez.
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