Tatiana Amaral acredita que livros do gênero não trazem tantos pontos positivos para outros autores
Desde o seu lançamento na Netflix, o longa polonês "365 Dias" angariou diversos fãs, mas também gerou muitos debates sobre a sua trama. Inspirado nos livros homônimos da autora Blanka Lipińska, a produção conta com tons de erotismo, sensualidade e polêmica e foi um dos grandes destaques de 2020.
No Brasil, o gênero também faz sucesso e garante uma trajetória sólida para autores nacionais, como é o caso da baiana Tatiana Amaral. Dona de um acervo completo de livros do gênero erótico, a escritora é uma das mais bem sucedidas do gênero em território nacional e acredita que livros como o de Lipińska e da inglesa E. L. James, criadora da saga "Cinquenta Tons de Cinza", não trazem tantos pontos positivos para outros autores.
"Quando olhamos para esses livros levando em conta apenas o sexo narrado, eu digo que talvez não, não seja um ponto positivo, como muitos defendem. O público para o erótico é pequeno e restrito e como escritores deveríamos mirar sempre algo além disso. Por isso eu sempre digo para olharem além do sexo nesses livros", explica Tatiana.
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Ela defende que o sexo descrito nessas obras não foi o responsável para que elas ganhassem tanta notoriedade, apesar de acreditar que as cenas sensuais funcionam "como um brinde, como algo que nos faz ter a ideia de estarmos cometendo um delicioso delito, e, é provável, que isso venda". O primeiro filme inspirado nos livros de E.L. James, por exemplo, estreou nos cinemas arrecadando mais de 571 milhões de dólares.
"Mas os dois livros, e todos os inúmeros que temos nesse gênero, trazem questões muito mais interessantes e que merecem ser abordadas. Acredito que 90% dos autores de romance erótico ou sensual, não escrevem pensando apenas no tanto de sexo que quer colocar na história. Existe algum tópico que está a frente do sexo, e que precisa ser abordado”.
Em suas próprias obras, Tatiana também vai além das cenas sensuais e fala sobre temas relevantes, como relacionamentos abusivos, violência doméstica e traumas. Para ela, é necessário ter cuidado em obras deste gênero para não levar um tom de romantização nesses assuntos: "O sexo passa, a história fica".
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No caso de "365 Dias", que está sendo alvo de críticas desde sua estreia, muitos espectadores acreditam que o filme vem fazendo exatamente isso: glamourização da cultura do estupro. Na narrativa, o protagonista Massimo (Michele Morrone) é completamente fissurado em Laura (Anna-Maria Sieklucka) e, para conquistá-la, decide sequestrá-la e fazer com que ela se apaixone por ele no prazo de 365 dias. Existe, inclusive, um movimento de internautas pedindo a exclusão do longa do catálogo da Netflix, o que já foi negado pela empresa.
Para Tatiana, a narrativa mostrada em "365 Dias" já é comum aos espectadores, a diferença é que em romances mais tradicionais o mocinho costuma ser um galã milionário, que tem atitudes abusivas justificadas pelo amor. "A diferença é que em '365 Dias' o mocinho é mafioso, sequestra a garota para que esta o ame. E lógico, não vou deixar de defender a ideia de que seja romantizar o abuso, porque verdadeiramente o é. Cabe ao leitor separar a ficção da realidade, isso é maturidade".
SOBRE TATIANA AMARAL
Natural de Salvador, Bahia, Tatiana está no mercado literário há alguns anos e possui em sua carreira como autora sucessos de vendas, como as séries "O Professor", "O Diário de Miranda" e "Função CEO".
Durante a quarentena, após ter vencido a covid-19, a escritora acaba de lançar uma nova obra, intitulada "Por Mil Anos", que conta a trajetória de um casal tentando viver o amor. "É uma história de busca e reconhecimento, e claro, como um bom romance, cheio de drama".
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"Eu adoeci logo no início e minha recuperação foi lenta e complicada. Não apenas fisicamente, mas o psicológico fica muito abalado. Demorei um pouco mais de 45 dias para me sentir saudável outra vez, levando em consideração os dois pontos. Passei a repensar minha vida, a maneira como trabalhava e o que tinha estabelecido como desejo para 2020", explica a baiana sobre sua experiência com o coronavírus.
"Quando digeri a doença e entrei na etapa da gratidão, comecei a trabalhar melhor, seguindo outro ritmo e voltando a me divertir com todo o processo. Quando me dou conta de que estou escrevendo algo que me faz bem, a criatividade flui", relata a autora.