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Cinema / ENTREVISTA

'Sonhar é um caminho para acessar o inconsciente', afirma Marcelo Gomes, diretor de Criaturas da Mente

O documentário acompanha a jornada do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro para melhor entender o universo dos sonhos e do inconsciente

ANGELO CORDEIRO | @OANGELOCINEFILO
por ANGELO CORDEIRO | @OANGELOCINEFILO

Publicado em 08/05/2025, às 17h30

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'Sonhar é um caminho para acessar o inconsciente', afirma Marcelo Gomes, diretor de Criaturas da Mente - Divulgação/Isabela Cunha
'Sonhar é um caminho para acessar o inconsciente', afirma Marcelo Gomes, diretor de Criaturas da Mente - Divulgação/Isabela Cunha

Criaturas da Mente, novo longa do diretor Marcelo Gomes (Estou Me Guardando Para Quando O Carnaval Chegar), promete provocar reflexões profundas sobre o papel dos sonhos na construção de novas formas de existência e no resgate de tradições há muito negligenciadas.

O documentário acompanha a jornada do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro para melhor entender o universo dos sonhos e do inconsciente a partir da relação do conhecimento científico e dos saberes ancestrais de povos originários e de culturas afrodescendentes, transcendendo o tradicional eurocentrismo da academia.

Em parceria com a Rolling Stone Brasil, o CineBuzz conversou com Marcelo Gomes e Sidarta Ribeiro a respeito da novidade, que chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, dia 8 de maio, com distribuição da Bretz Filmes.

Diretor também é personagem

Em Criaturas da Mente, o diretor Marcelo Gomes é também um personagem efetivo, que tem dúvidas e questiona. Ao ser perguntado se este é o seu projeto mais pessoal, o pernambucano declarou:

Olha, eu acho que todo o meu cinema é muito pessoal, muito afetivo. Vem do coração, vem da alma. E esse não é diferente. Eu nunca conseguiria fazer um documentário clássico, científico. Era impossível pra mim."

Desenvolvido em parceria com Letícia Simões e o apoio de João Moreira Salles, Criaturas da Menteteve seu ponto de partida quando Marcelo Gomes leu um artigo da revista Piauí no qual Sidarta falava sobre o carnaval de Olinda. “Ele tocou na minha alma. Todos os meus filmes têm carnaval. O carnaval tem uma relação muito forte comigo, que sou pernambucano.

Marcelo revelou ainda que a colaboração com Sidarta Ribeiro foi fundamental para encontrar uma ponte entre o cinema e a ciência. “Ele foi muito importante porque eu queria acessar os conhecimentos que ele tava me passando. Às vezes, eram conhecimentos científicos complexos pra mim, que sou leigo."

"Um dia eu mostrei um curta meu pra ele [Sidarta], Maracatu, Maracatus [de 1995], e ele disse: ‘Olha aí, isso é o criaturismo da mente’. E a partir disso, entendi que o documentário [Criaturas da Mente] tinha que ser um diálogo entre o meu cinema e a ciência que ele exercia”, revelou, mostrando a importância da sinergia entre ambos.

Ao longo da produção, o filme passou a incorporar múltiplas vozes e saberes, indo da ciência às tradições afro-indígenas. “O que a gente quis foi expandir esses conhecimentos. Não só o científico, mas o da mãe Beth, do Krenak, da mãe Lou — conhecimentos que têm um valor tão importante quanto o do Sidarta. Conhecimentos ancestrais que fazem parte da nossa cultura brasileira.

O resultado, segundo Marcelo, foi uma grande viagem conduzida por Sidarta, esse cientista de alma brasileira, que leva o público à capoeira e a elementos profundos da cultura nacional.

O Orson Welles dizia: na ficção, o diretor é Deus. No documentário, Deus é o diretor. O acaso acontece o tempo todo. O Sidarta instigava toda a equipe — eu, o Ivo Lopes [fotografia], a Letícia. Ele não era um orientador, era um instigador de consciências.

Sidarta e a "bad trip"

Questionado sobre sua relação com a psicodelia, Sidarta compartilhou uma experiência marcante. “Meu primeiro contato foi em 1993. Eu tinha 22 anos e estava em depressão, meu único episódio depressivo. Meu irmão me levou à Chapada dos Veadeiros para tomar cogumelo. Eu tinha uma arrogância cientificista e achava que nada ia acontecer. Tomei uma macrodose, tive uma bad trip clássica... Mas, no dia seguinte, foi um dos dias mais lindos da minha vida adulta.

Para ele, a experiência foi transformadora, tanto pessoal quanto profissionalmente. “Foi muito poderoso. Me mostrou a capacidade terapêutica dessas substâncias. Depois disso, segui com mestrado, doutorado, e aquilo ficou comigo. Hoje faço pesquisa com psicodélicos há muito tempo. Primeiro como sujeito, depois como neurocientista.

A experiência com a Ayahuasca

No documentário, Marcelo tem uma experiência com a Ayahuasca, e comentou sobre ela conosco: “O Sidarta fez a experiência e compartilhou com a gente. Foi muito forte. Ele deixou de ser o cientista e virou a pessoa física. Aí chegou minha hora.

Conversei com um psicólogo por uma semana, fui a um centro com pessoas de uma aldeia indígena do Acre. Foi tudo muito organizado. Eu estava buscando abrir portas do meu inconsciente — algo fundamental para mim enquanto personagem”, confessou.

Por que o medo de sonhar?

Uma das cenas mais marcantes do documentário mostra Marcelo conversando com sua mãe sobre sonhos. Ela diz que não gosta de sonhar — e a conversa se aprofunda. Sidarta nos falou sobre esse medo de sonhar que algumas pessoas possuem:

Eu acho que muita gente vê o sono como perda de tempo. Mas também tem o lado mais delicado: nos sonhos, somos confrontados com coisas que não queremos ver. Coisas que achamos que nem existem, mas ali estão, com uma força inegável.”

Marcelo também falou a respeito da pessoa que ele conhece tão bem: “No caso da minha mãe, acho que tem coisas que ela não gosta de ver. Ela é muito intuitiva, muito criativa, nem sabe o quanto. Mas os sonhos a fragilizam. Ela sonha muito, às vezes diz que nem dormiu e já está sonhando. Entendo isso como uma dificuldade de se relacionar com o inconsciente.

Aprendizado durante o processo

Marcelo se coloca no filme como personagem — alguém que representa o público, aprendendo junto. Ao ser perguntado sobre o que mais aprendeu, ele declarou:

Foi uma viagem de autoconhecimento. Aprendi que nossa mente é como um iceberg — a ponta é o consciente, e o inconsciente é a imensidão submersa. Esse filme me fez refletir sobre o ato de sonhar, como um caminho pra acessar o inconsciente. Hoje escrevo sobre meus sonhos, converso com as pessoas sobre eles. Esse diálogo com o inconsciente é estimulante pra viver melhor.

Ele também cita uma fala marcante do ambientalista e filósofo Ailton Krenak: “O Krenak me disse algo maravilhoso: ‘Não é pra entender certas coisas. É pra experienciar’. A experiência traz a compreensão da vida.

Sidarta concordou, destacando a sintonia da equipe: “O Marcelo falou da Letícia e do Ivo, duas pessoas essenciais. Teve uma química muito forte com a equipe. Conhecemos pessoas incríveis como mãe Beth, mãe Lu, e o Krenak, que se dispôs a gravar com a gente. Rolou uma troca muito forte.

Por fim, Sidarta relembroou um momento especial das filmagens: “Teve uma coisa muito louca com o Ivo e o Marcelo na filmagem do Parangolé, na duna. Rolou um transe ali. Acho que foi um processo de libertação pra todo mundo. Um ganho de consciência. E vou te dizer: não sabia que cinema era tão doido — tão complexo quanto fazer ciência!”, brincou.

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