Diretor deu fôlego ao gênero com o sarcasmo e a irreverência de Ghostface e Freddy Krueger
Um dos filmes mais aguardados pelos fãs de terror e de cinema em 2022 é, sem dúvida alguma, "Pânico", o quinto filme de uma das franquias de maior sucesso entre o público. E muito desse sucesso se deve a um nome: Wes Craven.
O diretor, falecido em 2015, infelizmente não está aqui para colher os louros de mais uma sequência - o filme ficará a cargo da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, de "Casamento Sangrento" - mas mesmo assim merece ser lembrado por todo seu legado e pela forma com que mudou o terror nos anos 80 e 90, sempre com bom humor.
O CONTEXTO DA DÉCADA DE 1970
Os anos 1970 ficaram marcados por duas principais vertentes: a Nova Hollywood, movimento cinematográfico liderado por jovens diretores que reagiram contra a influência dos grandes estúdios sobre os filmes, e também pelo blaxploitation, movimento liderado por diretores e atores negros com filmes voltados à população negra norte-americana.
A ascensão desses movimentos de contra-cultura se devia ao fato da crise econômica que a indústria cinematográfica enfrentava nos anos 1960. Muitos diretores passaram a investir seu próprio dinheiro em suas produções para não dependerem dos mandos e desmandos dos estúdios.
O INÍCIO DA CARREIRA
Wes Craven foi um deles. Enfrentando uma grande crise financeira, Craven se juntou a Sean S. Cunningham ("Sexta-Feira 13") para produzir vários filmes pornôs - que viviam sua era dourada - e angariar fundos para continuar produzindo seus próximos filmes. Com medo de manchar a carreira, Craven assinava esses filmes com pseudônimos.
Em 1972, exatamente dois anos antes do slasher "nascer" - em 1974, com "O Massacre da Serra Elétrica" e "Noite do Terror" - Craven estreava oficialmente nos cinemas com "Aniversário Macabro" um filme que beirava ao amadorismo mas que já deixava explícita toda a brutalidade que seria marca na carreira do diretor.
FINALMENTE, UM DIRETOR DE TERROR
Em 1977, após diversas tentativas de escrever roteiros que fossem financiados por bancos, Craven escreveu e dirigiu "Quadrilha de Sádicos", um filme autenticamente "B", de baixo orçamento e com atores em início de carreira. A partir dali, Craven foi catapultado ao status de diretor de filmes de terror e passaria a investir de vez no gênero pelo qual se tornaria uma das principais referências.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, Craven ainda dirigiu outros filmes de terror que não resistiram ao tempo, alguns sendo mais lembrados pelos nomes envolvidos do que por qualidades técnicas, como "Verão do Medo", de 1978, estrelado por Linda Blair alguns anos após ter feito o clássico "O Exorcista" (1973), e "Bênção Mortal", com uma jovem Sharon Stone em início de carreira.
A PRIMEIRA OBRA-PRIMA
Foi em 1984, quando o slasher já era um subgênero esgotado que sobrevivia de sequências e fórmulas requentadas, que Craven lançou aquela que é considerada por muitos a sua primeira grande obra-prima e um clássico do horror: "A Hora do Pesadelo".
Protagonizado por Robert Englund, interpretando o sarcástico assassino Freddy Krueger, o filme deu sobrevida ao gênero - e ao próprio Craven - se tornando um sucesso de bilheteria e de crítica. O resultado já sabemos: nascia uma franquia de sucesso. O filme também é conhecido por ter sido a estreia de Johnny Depp nas telonas.
PEQUENAS PÉROLAS
Após o sucesso de "A Hora do Pesadelo", Craven viveu um período "entressafras" até sua próxima obra-prima. Em 1988, surfando na onda dos filmes de zumbis, dirigiu "A Maldição dos Mortos-Vivos"; no ano seguinte, dirigiu "Shocker", longa sobre um técnico de TV que ataca por meio das ondas de TV; e em 1991, dirigiu "As Criaturas Atrás das Paredes", filme que se tornou um clássico cult e um dos mais adorados por seus fãs.
Em 1995, Craven colocaria um filme de vampiros em sua filmografia: "Um Vampiro no Brooklyn", protagonizado por Eddie Murphy e Angela Bassett. Uma nova tentativa de Craven em repaginar com bom humor um gênero já explorado ao máximo. Não deu muito certo, apesar de ser lembrado com carinho por alguns fãs.
A METALINGUAGEM
Antes de falarmos de "Pânico", precisamos lembrar que, em 1994, Craven retornou para o cargo de direção da franquia que ele mesmo começou: "A Hora do Pesadelo". Então com seis filmes lançados e com a morte de Freddy Krueger no sexto filme, a franquia precisava se revitalizar e Craven, mais uma vez, mostrou porque era um diretor diferenciado.
Em "O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger", Craven fez algo que, para a época e para o gênero, era novidade: utilizou da metalinguagem para construir o enredo da história. No filme, realidade e fantasia se misturam a partir do momento em que Wes Craven e os atores Heather Langenkamp e Robert Englund - interpretando a si mesmos - são aterrorizados pelo vilão Freddy Krueger durante as gravações de um novo filme da franquia.
PÂNICO
O elemento de metalinguagem aliado ao tom de humor ácido deu tão certo que, dois anos depois, Craven deu novo fôlego ao slasher com "Pânico", uma obra que transcendeu os padrões do gênero por ter um nítido valor de produção mais elevado, atores mais conhecidos, além de um assassino irreverente, atrapalhado e que não pensa duas vezes antes de fazer suas vítimas.
Além disso, "Pânico" fez - e ainda faz - sucesso com o público pois possui uma trama inteligente que brinca com os diversos clichês do gênero e não subestima nem mesmo os seus personagens.
O roteiro escrito por Kevin Williamson ("Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado") se diferenciava de outros filmes de terror da época por fazer com que os personagens tivessem a ciência de sua contemporaneidade. Exemplo da famosa frase: "Qual o seu filme de terror favorito?" proferida pelo assassino Ghostface já nos minutos iniciais do primeiro filme da franquia.
A fórmula de "whodunnit" (quem matou?), herdada dos giallo - movimento italiano que teve seu auge entre os anos 60 e 80 e é considerado por muitos o precursor do slasher norte-americano - deu tão certo que "Pânico" ganharia ainda outras três sequências dirigidas por Craven.
ANOS FINAIS
Após a trilogia "Pânico", Craven ainda dirigiria quatro filmes antes de sua morte: "Amaldiçoados", de 2004, um filme de lobisomens protagonizado por Christina Ricci que não é tão adorado; o elogiado thriller "Voo Noturno", com Cillian Murphy e Rachel McAdams; e "A Sétima Alma", de 2010. No entanto, seu penúltimo filme não foi o sucesso que o diretor esperava.
O filme que marcou sua despedida veio em 2011 e não poderia ser mais simbólica. "Pânico 4" foi lançado onze anos após "Pânico 3" e quinze anos após a estreia de "Pânico". A ideia era que o filme fosse o início de uma nova trilogia, mas a morte de Craven e o lançamento da série "Scream", pela MTV, findaram os planos.
Agora, com o filme "Pânico 5" chegando aos cinemas, fica a pergunta: será que este novo capítulo de uma das franquias mais queridas pelos fãs honrará o legado de Wes Craven? Confira nossa crítica de novo filme AQUI.