Gloria Groove faz história como primeira drag queen em Wicked: “Grande conquista”
A artista irá viver a Madame Morrible, diretora da Universidade de Shiz, em sessões limitadas de Wicked, no Teatro Renault, em São Paulo

Gloria Groove vai protagonizar um momento histórico nos palcos: de 23 a 27 de agosto e de 30 de agosto a 3 de setembro, a artista será Madame Morrible em Wicked, em cartaz no Teatro Renault. Com isso, ela se torna a primeira drag queen do mundo a interpretar a personagem no musical, em uma escalação que une representatividade, força simbólica e paixão pelo teatro.
No enredo, Madame Morrible é a diretora da Universidade de Shiz, responsável por figuras centrais como Elphaba e Glinda, vividas no musical, respectivamente, por Myra Ruiz e Fabi Bang. A escalação de Gloria reforça a potência política e artística da produção brasileira e foi destaque na coletiva de imprensa que aconteceu no próprio Teatro Renault, nesta quinta-feira, 21 de agosto, e contou com a presença de Rolling Stone Brasil, parceira de CineBuzz.
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A escalação de Gloria Groove
Gloria Groove participará de dez sessões do musical e chega ao palco realizando um sonho pessoal e, segundo um dos produtores, também um desejo dos fãs. “Ela se sente como um fã de Wicked que tiramos da plateia e trouxemos para dentro do elenco. Mas, obviamente, não é qualquer fã: é um artista completo, que chegou aos ensaios com texto decorado e músicas prontas, aplaudido pelo elenco já nas primeiras passagens de cena”, afirmou o produtor.
Antes de assumir o papel, Gloria passou por todas as etapas formais de aprovação: gravou músicas e falas, foi submetida aos licenciadores em Nova York, ensaiou com o diretor Ronny Dutra nos Estados Unidos, jantou com o compositor Stephen Schwartz e assistiu à montagem na Broadway.
Karin Hils, que vive Madame Morrible na temporada regular, deu as boas-vindas à artista. “Quero te desejar muita sorte e muito sucesso. Tenho certeza de que você vai brilhantar aqui com seu talento e sua representatividade. É um privilégio viver esse espetáculo com um público tão apaixonado e caloroso”, disse.
Uma volta ao ponto de partida
Ao tomar a palavra, Gloria Groove definiu sua participação como um momento de “círculo completo” em sua vida pessoal e artística. “O teatro musical foi minha porta de entrada para a cultura drag queen, lá no fim da adolescência. Minha primeira personagem foi a Margaret Mead em uma montagem independente de Hair. Agora, voltar a esse palco em drag, nesta proporção, é uma grande conquista”, afirmou.
A artista lembrou ainda que sua paixão nasceu em 2008, quando, aos 13 anos, assistiu a Miss Saigon no mesmo teatro. “Saí daqui pensando como queria um dia estar nesse palco”, recordou.
Gloria também destacou sua ligação antiga com Karin Hils, que a incentivou em um concurso no Domingo Legal, em 2002, marcando o início de sua carreira musical. “Tudo nessa experiência me faz sentir em casa: casa Oz, casa Teatro Renault, casa Rouge. É muito simbólico voltar agora como parte de Wicked”, completou.
A adaptação ao ritmo intenso
Questionada sobre os maiores desafios, Gloria Groove revelou que o maior obstáculo não esteve na interpretação ou no canto, mas na adaptação ao ritmo intenso da temporada. “O mais desafiador foi pular nesse trem em movimento, porque quando cheguei a peça já estava acontecendo. Tive que estar pronta e na marca desde o primeiro dia”, explicou. A artista destacou ainda o esforço para aprender o blocking — entradas, saídas e movimentação no palco — algo que, como espectadora, nunca precisou considerar.
O elenco se emocionou ao refletir sobre a influência que personagens de destaque podem ter sobre crianças e adolescentes que crescem acompanhando suas trajetórias. “Para alguma criança que assistir Wicked hoje, eu posso ser o que Marcos Tumura foi para mim em 2008”, disse Gloria, lembrando suas inspirações.
Gloria conta que a preparação foi intensa e acelerada: apenas quatro ensaios antes da estreia, um deles em Nova York com o diretor Ronny Dutra. “Não tive nenhum passadão completo, então meu verdadeiro passadão será na estreia. Foi uma experiência de alta intensidade, mas acredito que estar tão próxima da obra como fã me colocou em vantagem”, revelou.
O processo de criação, segundo Gloria, foi longo e respeitou seu próprio tempo. Ela contou que as primeiras sementes surgiram quando assistiu a Wicked em 2016 e novamente em 2023. “Foi um processo gostoso e transformador, em que a cada dia no palco eu descobria algo novo”, afirmou. Para ela, a construção passa pela dualidade entre a aparente generosidade de Morrible no primeiro ato e a revelação de sua verdadeira face quando a máscara cai.
“Já encontrei muitas Madames Morrible na vida”
Questionada sobre a figura manipuladora de Morrible, a artista admitiu que já lidou com pessoas semelhantes fora dos palcos. “Já conheci mais Madames Morrible do que gostaria. Elas estão em todos os lugares — parecem abrir portas, mas agem em benefício próprio”, disse, explicando que experiências pessoais serviram de inspiração para dar corpo à vilania da personagem.
Ao ser perguntada sobre a “brasilidade” de sua interpretação de Madame Morrible, Gloria respondeu: “Toda hora alguma referência de novela me atravessa. Sem querer, adiciono nuances da nossa cultura à personagem”, disse, destacando o peso cultural dessa inserção.
A artista também compartilhou a emoção do encontro com Stephen Schwartz, compositor de Wicked. “Foi histórico. Tentei não ficar ‘fangirling’, mas perguntei sobre o processo de criação e me senti muito encorajada e validada por ele”, contou. Ela acredita que a experiência no musical terá impacto direto em sua carreira musical, transformando sua visão artística graças à experiência coletiva do palco.
O musical e a diversidade
Ao refletir sobre a diferença entre a peça e a adaptação para o cinema, Gloria destacou que a versão dirigida por Jon M. Chu, com Michelle Yeoh no papel de Madame Morrible, opta por uma abordagem mais suave, enquanto a montagem teatral tradicional sempre abraçou o aspecto caricatural da vilã. “Eu busquei referências em Carole Shelley, primeira intérprete da personagem na Broadway, e também em vilãs clássicas da Disney, como Lady Tremaine e Mãe Gothel”, explicou. O resultado, segundo ela, é uma Morrible cartunesca, potencializada pelo fato de ser interpretada por uma drag queen.
A artista também comentou o peso simbólico de ser a primeira drag a assumir o papel em uma produção desse porte. “Wicked sempre foi um espaço de diversidade. Oz simboliza uma sociedade onde humanos e animais coexistem. Minha presença só reforça esse vínculo entre o musical e a diversidade, mostrando que ela é algo digno e central”, declarou.
Provocada sobre a contradição de viver uma vilã que rejeita a diversidade — em contraste com sua própria trajetória —, Gloria explicou que prefere buscar os pontos de convergência. “Mais do que as diferenças óbvias, me interessa perguntar: onde mora a Morrible em mim?”, disse. Ela revelou que encontrou na ambição e no desejo de impor valores traços que a aproximaram da personagem.
Ao ser perguntada se gostaria de interpretar Elphaba, Gloria riu, mas não descartou a possibilidade. “No momento estou realizada com Morrible, mas quem sabe um dia? Seria incrível.”
Construir a Morrible é um espelho. É lembrar das pessoas manipuladoras que já encontrei e, ao mesmo tempo, reconhecer dentro de mim os lugares onde essa personagem poderia habitar. Essa é a beleza do teatro: ele te obriga a se revisitar.”
Encontro histórico com Stephen Schwartz
Um dos momentos mais emocionantes da coletiva foi quando Gloria falou sobre o encontro com Stephen Schwartz, compositor de Wicked. “Foi histórico. Eu estava tentando não ficar ‘fangirling’ na frente dele. Mas, claro, não resisti e perguntei sobre o processo de criação, sobre o filme, tudo. Me senti muito encorajada e validada por ele”, contou a artista.
Impacto e legado
Gloria destacou ainda que a experiência no musical impactará sua carreira musical: “Tenho certeza que sim. Wicked é uma experiência profundamente coletiva. No palco, eu dependo dos meus parceiros para a cena acontecer, e isso muda completamente a química do meu cérebro artístico. Como artista solo, muitas vezes a experiência pode ser solitária. Aqui, tudo é coletivo, e isso vai me influenciar nos meus próximos projetos.”
O produtor da temporada destacou a relevância da atual montagem: “Wicked se atualiza porque as pessoas mudam. Originalmente, era uma crítica ao nazismo e ao fascismo. Hoje, ganha outros significados, inclusive sobre diversidade. O sucesso mundial do espetáculo mostra que, infelizmente, a realidade insiste em correr atrás da ficção.”
Livro comemorativo
Durante a coletiva, também foi revelado o lançamento de um livro especial sobre os bastidores da montagem brasileira. Diferente de edições de luxo, a publicação reúne registros do processo criativo, como esboços de figurinos, fotos de tecidos, maquetes de cenários e detalhes de maquiagem e perucaria, além de atividades realizadas fora de cena. O livro terá tiragem limitada de 2 mil exemplares e começa a ser comercializado no próximo sábado, durante a estreia de Gloria Groove, na sessão das 15h.
Como adquirir os ingressos?
Os ingressos são vendidos na bilheteria oficial do Teatro Renault (sem taxa de conveniência): de terça-feira a domingo, das 12h às 20h, exceto feriados; e também no site da Ticket for Fun.
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