Herege é terror questionador que tem Hugh Grant como seu maior trunfo - Divulgação/A24
CRÍTICA

Herege é terror provocador que tem Hugh Grant como seu maior trunfo | #CineBuzzIndica

Novidade da dupla Scott Beck e Bryan Woods chega aos cinemas trazendo Hugh Grant em um papel bem diferente do que estamos acostumados a vê-lo

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 18/11/2024, às 13h15 - Atualizado às 14h15

Não é exagero afirmar que Herege é uma das surpresas do terror em 2024. Nem tanto por sua história, que vai perdendo força com o desenrolar dos acontecimentos, mas por trazer um Hugh Grant (Wonka), ator que se consagrou na comédia romântica, em um papel envolto em mistérios e, por vezes, de porte assustador, parecendo estar sempre um passo à frente das protagonistas e de nós, espectadores.

Após o fracasso de 65 - Ameaça Pré-Histórica, ficção científica de ação estrelada por Adam Driver (Megalópolis), de 2023, a dupla de diretores Scott Beck e Bryan Woods, que chamou a atenção com A Casa do Terror, longa de baixíssimo orçamento lançado em 2019, volta às origens em um filme claustrofóbico e, principalmente, provocador.

Em Herege, as missionárias Irmã Paxton (Chloe East, Os Fabelmans) e Irmã Barnes (Sophie Thatcher, Yellowjackets) vão à casa de um homem, o Sr. Reed (Hugh Grant, Wonka), para tentar convertê-lo. Entretanto, a situação, que começa com uma recepção amistosa e agradável, logo vai se tornando incômoda, revelando-se muito mais perigosa do que as jovens poderiam imaginar.

Cheio de reflexões acerca da religiosidade das Irmãs, o embate de ideias apresentado por Herege mantém um tom de suspense que faz muito bem ao filme na primeira metade. O grande trunfo disso está na atuação de Hugh Grant, que defende seu personagem com argumentação e referências à cultura pop — a sequência em que ele compara Monopoly, o nosso Banco Imobiliário, com as religiões monoteístas é hilária —, sempre em um tom provocador, aproveitando-se da pouca idade e bagagem das Irmãs.

O Sr. Reed de Grant é como um jogador experiente, que se senta à mesa e tem dois peões dispostos em um tabuleiro para o seu entretenimento. Eles, os peões, podem fazer suas escolhas — o tal livre-arbítrio —, mas é como se o manipulador Reed já soubesse que, independentemente do caminho escolhido, o destino lhes traria o mesmo infortúnio.

É exatamente esse passo à frente de Reed que torna o personagem tão intimidador e deliciosamente instigante, sem que se faça necessário o confronto físico, apenas o de ideias, a partir de monólogos indagadores, que vão fazendo com que as Irmãs se questionem e fiquem encurraladas dentro de suas próprias crenças.

Contudo, se os questionamentos levantados pelo personagem de Grant diretamente às Irmãs Paxton e Barnes mantém Herege num patamar de imprevisibilidade nos dois primeiros atos, logo o filme se transforma em um jogo de gato e rato, perdendo sua força ao abandonar essa abordagem mais acintosa e caindo justamente no positivismo da fé. 

No último ato, parece que rola um esgotamento de ideias da parte de Beck e Woods. Os ótimos cenários da casa do Sr. Reed, tão bem explorados e trabalhados até então, não parecem interessar mais à dupla de diretores e, daí em diante, Herege cai em um lugar comum dentro do gênero, transformando um vilão intrigante e ameaçador em uma presença pouco amedrontadora ao buscar um enfrentamento que, até ali, tinha causado muito mais tensão enquanto no campo da sugestão.

Em suma, Herege é o tipo de história que deixa uma sensação de que poderia ter sido mais, principalmente quando apostava em menos. No final, o longa deixa de ser provocador e passa a ser mais direto, saindo do suspense que incomoda e nos fazendo rir de nervoso ao se transformar em um terror mais óbvio, que não se sustenta por muito tempo. Pelo menos, vale para curtir Hugh Grant em uma atuação fora do convencional para a sua carreira. 

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