Advogado dos irmãos afirma que, se o caso fosse julgado atualmente, o desfecho seria bem diferente
ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 24/09/2024, às 12h00
"Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais" já está disponível na Netflix e conta a história dos irmãos Menendez, responsáveis por matarem os próprios pais em um dos crimes mais chocantes dos EUA — e que lembra muito o crime de Suzane Von Richthofen, no Brasil.
Os irmãos alegam que os homicídios foram motivados por anos de abuso sexual perpetrado pelo pai José Menendez, um executivo do ramo de entretenimento, e que a mãe teria ignorado os relatos. Mas, as autoridades informaram que o verdadeiro motivo foi a ganância, evidenciada pelo extravagante estilo de vida adotado pelos irmãos após os crimes.
José foi morto dentro de sua casa com seis tiros de espingarda. A esposa, Kitty, estava junto e morreu com 10 disparos. Lyle e Erik chamaram a polícia, afirmando que haviam chegado do cinema e encontrado os pais mortos.
Em 1996, três anos após um julgamento inicial que não resultou em veredicto, Lyle e Erik foram considerados culpados de homicídio em primeiro grau e receberam pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
Desde então, houve várias tentativas de anular suas condenações. A mais recente aconteceu em maio de 2023, quando os advogados dos irmãos protocolaram uma petição no Tribunal Superior do Condado de Los Angeles, fundamentada em novas provas.
A petição de Habeas Corpus traz à tona denúncias de abuso sexual feitas por Roy Rosselló, ex-integrante da boy band Menudo, contra José Menendez. Rosselló afirma que foi estuprado pelo pai de Lyle e Erik na década de 1980, situação similar à vivida pelos irmãos.
Além disso, foi encontrada uma carta de Erik para seu primo, Andy Cano, escrita meses antes dos assassinatos, onde ele desabafa sobre os maus-tratos sofridos nas mãos do pai.
Em um trecho divulgado pela CBS News, Erik escreve para seu primo: "Tenho tentado me afastar do papai. As coisas estão piorando para mim... Fico acordado toda noite preocupado que ele possa entrar... Estou com medo... Ele é louco. Ele me disse centenas de vezes para não contar a ninguém, especialmente ao Lyle."
De acordo com Mark Geragos, advogado dos irmãos após a condenação, essas novas evidências não foram levadas em conta no segundo julgamento, pois permaneceram desconhecidas por muito tempo.
"Estamos argumentando que o segundo julgamento não respeitou as garantias constitucionais por várias razões", afirmou Geragos à People, em uma entrevista exclusiva. "E uma petição de Habeas Corpus exige a apresentação de novas evidências, que incluem o depoimento do acusador do Menudo e a carta que foi encontrada."
Geragos enfatiza que a equipe de defesa obteve declarações de 24 membros da família solicitando a reavaliação das sentenças. "Os irmãos Menendez estão 'cautelosamente otimistas'", declarou Geragos.
O juiz pode tomar três decisões, explicou o advogado: rejeitar a petição, solicitar uma resposta formal do promotor ou pedir uma resposta informal. A última opção foi escolhida, levando a uma investigação das novas evidências pelos promotores nos últimos 15 meses.
Segundo ele, se o caso fosse julgado atualmente, o desfecho seria bem diferente. "Hoje, eu argumentaria que isso seria visto como homicídio culposo. A sociedade evoluiu e está mais consciente sobre questões de abuso sexual."
Um porta-voz do Gabinete do Procurador Distrital do Condado de Los Angeles confirmou à revista que as alegações estão sendo investigadas e que a resposta informal deve ser apresentada até 26 de setembro de 2024.
Apesar das novas evidências, o promotor distrital sênior Dmitry Gorin e a advogada de defesa Neaman Rahamani acreditam que as chances dos irmãos Menendez são limitadas. Eles argumentam que essas novas informações não alteram o que foi apresentado nos julgamentos e que não serão suficientes para mudar a condenação da dupla.
Além disso, a série da Netflix provavelmente não ajudará os irmãos, considerando a forma como retrata a história. Erik, inclusive, fez críticas públicas à série em seu Facebook, acusando o showrunner Ryan Murphy de apresentar o caso de maneira desonesta e de não levar em conta os abusos que ele e seu irmão teriam enfrentado.
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