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Cinema / ENTREVISTA

Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais: 'Não tolero'

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, a atriz disse sofrer ataques de brasileiros por disputar o prêmio com Fernanda Torres no Oscar 2025

ANGELO CORDEIRO | @OANGELOCINEFILO
por ANGELO CORDEIRO | @OANGELOCINEFILO

Publicado em 31/01/2025, às 12h00

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Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais: 'Não tolero' - Lucas Ramos
Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais: 'Não tolero' - Lucas Ramos

Recentemente, a atriz espanhola Karla Sofía Gascón, que disputa o Oscar de Melhor Atriz com Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui), veio ao Brasil para divulgar o musical Emilia Pérez, de Jacques Audiard (Ferrugem e Osso), que estreia no país em 6 de fevereiro, mas ganha sessões antecipadas em cinemas selecionados a partir desta quinta-feira (30).

Porém, ao invés de comemorar a sua histórica indicação ao prêmio — Gascón é a primeira mulher trans a ser indicada às categorias de atuação em quase cem anos de Oscar —, a atriz vem lidando com uma enxurrada de críticas e ataques nas redes sociais, especialmente por se encontrar no caminho para a tão cobiçada primeira estatueta de ouro para o Brasil.

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, parceira de CineBuzz, Gascón se abriu sobre as críticas recebidas, que a atriz considera não serem especificamente sobre o seu trabalho em Emilia Pérez, mas pela má recepção negativa do musical, além da disputa direta com Torres pelo prêmio de Melhor Atriz:

"Eu, pessoalmente, não recebi nenhuma crítica", afirmou. "[Mas] o que não posso tolerar é que, a cada notícia que sai sobre mim ou a cada programa que participo, chegue a equipe de Fernanda Torres ou de Ainda Estou Aqui e comente: 'Fernanda Torres é melhor, você é uma porcaria', 'Fernanda Torres deveria participar deste programa', 'Fernanda Torres merece'."

"Obviamente, Emilia Pérez não vai agradar a todo o mundo"

Apesar das críticas online, Karla se mostrou cética em relação à relevância das opiniões vindas das redes sociais. "Vi duas ou três pela internet, mas da mesma forma vejo 250 milhões de notícias no mundo que dizem o quão maravilhoso é o filme", afirmou a atriz.

"Obviamente, [Emilia Pérez] não vai agradar a todo o mundo. Seria uma coisa extraordinária. Eu, por exemplo, não gostava de Titanic. E ganhou muitos prêmios. Eu gostava de Rambo naquela época. Mas nem todos vão gostar de Emilia Pérez, isso é óbvio", completou.

"Críticas online não refletem a realidade de meu trabalho"

Na conversa, Gascón ainda comentou a superficialidade da internet, onde qualquer pessoa pode criar perfis falsos e disseminar opiniões contraditórias sem responsabilidade. "Eu não posso dar credibilidade nem posso me sentir angustiada por alguém que se chama Azucarillo3426, que diz que representa todo o México, entende? Ou toda a América Latina. Isso é o que me parece ridículo," declarou.

A atriz também esclareceu que, pessoalmente, não foi afetada pelas críticas que viu online, pois elas não refletem a realidade de seu trabalho. Ao contrário, ela se sentiu mais conectada às reações positivas que recebeu de pessoas que realmente conhecem seu trabalho, como foi o caso do elogio sincero do ator mexicano Eugenio Derbez (Não Aceitamos Devoluções).

"Ele me disse pessoalmente em Nova York: 'Que filme maravilhoso, que atuação você fez. Eu juro que nunca vi uma coisa assim na minha vida'", relembrou a atriz
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)

Gascón também disse acreditar que, nas redes sociais, há um incentivo à criação de fofocas e a difusão de conteúdo para gerar ódio, muitas vezes impulsionados por interesses pessoais ou políticos.

"Há uma certa imprensa que adora gerar fofoca e notícias relacionadas a isso o tempo todo. Não vamos nos enganar. E está claro que há muitos interesses de direita, esquerda, de pessoas que têm seus grupos e seus community managers, seus trabalhadores de redes sociais que fazem um jogo sujo", lamentou.

Ela reforçou que não vale a pena se angustiar com os insultos e ataques vindos de pessoas anônimas, destacando a importância de focar no trabalho e nas reações genuínas. Para Gascón, é essencial não dar poder a discursos de ódio ou a campanhas criadas para gerar divisões e controvérsias.

Devemos usar as mídias de cada um para enaltecer nossos trabalhos e não para ficar se prendendo aos trabalhos dos outros, e muito menos para diminuir o trabalho dos outros e enaltecer o de outra pessoa.

Preparo vocal foi uma das principais dificuldades de Gascón em Emilia Pérez

Além da polêmica, que até demandou que Fernanda Torres gravasse um vídeo pedindo calma aos brasileiros, Gascón compartilhou detalhes sobre sua preparação e experiência para interpretar Emilia Pérez, e refletiu sobre os desafios e aprendizados que marcaram sua jornada.

A atriz confessou que uma das principais dificuldades foi o trabalho vocal, já que teve que modificar tanto seu sotaque quanto o tom da voz para encarnar dois personagens tão distintos, Manitas e, depois, Emilia. "Eu tive que mudar para um sotaque mexicano. Depois, mudar a voz para uma voz mais grave e uma voz mais aguda, mais fina," explicou.

Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)

Gascón ainda encarou o desafio de cantar, algo fora de sua zona de conforto: "Eu não sou cantora, né? Então, acho que o trabalho mais amplo que eu tive que fazer na construção do personagem foi com a voz", esclareceu.

Outro aspecto importante da sua preparação foi o trabalho físico, essencial para diferenciar as duas versões de sua personagem. A atriz falou explicou que, enquanto Manitas exigia uma postura e uma energia sombria, Emilia representava a luz. "São duas maneiras de se mover, duas maneiras de existir, digamos."

Gascón trabalhou essas diferenças com a ajuda de uma equipe especializada, que incluía efeitos especiais e até mesmo o aprendizado de dança, algo que ela não tinha explorado antes. Tanto trabalho árduo deixa a atriz um pouco ressentida quando vê dubladores finalizando seu trabalho de meses em 15 dias.

"Quando me dublam nos filmes, trabalho que eu respeito muito, me sinto um pouco chateada porque foi muito trabalhoso para que alguém depois em 15 dias ou um mês diga: 'Bom, colocamos essa voz assim e pronto'. Foi um grande trabalho encontrar exatamente qual era a voz perfeita para cada personagem. O personagem de Manitas é inspirado em Sylvester Stallone e Marlon Brando e minha referência principal para Emilía foi Catherine Deneuve.
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)

Experiência com novelas ajudou Gascón

Vinda do mundo das telenovelas mexicanas, Gascón usou a sua experiência para a sua interpretação. Segundo a atriz, as novelas exigem um ritmo acelerado de trabalho, com gravações de até 40 cenas por dia, o que a ajudou a desenvolver a habilidade de trabalhar comn agilidade e rapidez.

"Eles trabalham com ponto eletrônico, trabalham de uma maneira muito rápida... E o que me ajudou nas novelas foi ter essa rapidez, digamos, para não me pegar desprevenida", explicou.

Gascón ainda teve a oportunidade de aprender novas técnicas de atuação, como a técnica Meisner, que foca em viver o momento e se conectar com o parceiro de cena. "Quando cheguei ao México quis aprender todas as te´cnicas e encontrei justamente o contrário, com um professor em um lugar chamado Casa Azul, que é um professor mexicano e ator também, chamado Eduardo Arroyuelo, que me ensinou uma técnica que eu desconhecia até aquele momento, mas que me ajudou a recuperar a liberdade que eu tinha quando comecei," explicou.

A atriz também elogiou a grande liberdade criativa oferecida pelo diretor Jacques Audiard, a quem ela descreveu como um dos melhores diretores do mundo para trabalhar com atores. Segundo ela, Audiard conseguiu equilibrar as diferentes visões criativas de cada membro da equipe, de modo que o resultado final fosse uma obra coesa, sem se limitar a uma única perspectiva. Para a atriz, essa abordagem permitiu que ela se sentisse livre para explorar seu papel sem limitações impostas pela direção.

"Sinto como se me tivessem dado uma lâmpada, esfregado e tivesse aparecido esse senhor, que me disse: 'Te concedo três desejos e vamos fazer o que você quiser'. Ele é muito, muito, muito grande. Além disso, ele escolhe sempre as melhores coisas. Eu sempre lembro quando começamos, porque tive a sorte de estar no processo desde a pré-produção. Lembro que todo mundo, obviamente, queria fazer seu próprio filme. Os músicos, o coreógrafo da Madonna, eu mesma. E eu pensava: 'Como esse homem tem tanta paciência para nos aguentar?', brincou a atriz.
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)
Karla Sofía Gascon, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais em entrevista exclusiva (Divulgação/Paris Filmes)

Por fim, como a entrevista foi realizada antes do anúncio dos indicados, Gascón não pôde comentar seu feito histórico de ter se tornado a primeira atriz abertamente trans a ser indicada ao Oscar em qualquer categoria de atuação, mas a atriz refletiu sobre sua posição como a primeira atriz trans a ser indicada ao BAFTA e a ganhar um prêmio no Festival de Cannes, ao lado de Zoë Saldaña (Guardiões da Galáxia), Adriana Paz (Vis a Vis) e Selena Gomez (Only Murders in the Building), destacando sentimentos mistos em relação a esse marco.

"Eu me sinto realmente chateada por ser a primeira em tantas coisas quando estamos em 2025. Me dá pena," lamentou. "Mas, por outro lado, entendo a relevância, a profundidade e minha responsabilidade social com esse tema."

"Como sempre digo, eu não represento ninguém. Eu só posso falar por mim mesma, porque ninguém me escolheu democraticamente para ter uma palavra por ninguém. Mas se eu puder ajudar alguém com minhas palavras ou minhas ações, eu vou fazer. Porque, como ser humano, acho que tenho uma responsabilidade muito além do meu trabalho, que acho que é o mais importante aqui", encerrou a indicada ao Oscar.

LEIA A ENTREVISTA ORIGINAL: Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, critica o ódio nas redes sociais: 'Não tolero'

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  • Emilia Pérez (6 de fevereiro)
  • Better Man: A História de Robbie Williams (6 de fevereiro)
  • Capitão América: Admirável Mundo Novo (13 de fevereiro)
  • Branca de Neve (20 de março)
  • Um Filme Minecraft (4 de abril)
  • Thunderbolts* (1º de maio)
  • O Quarteto Fantástico (24 de julho)

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