Nossa ancestralidade tem conexões profundas e nos diz sobre pertencimento, inclusão e integração com a teia da vida
Ao longo da minha vida, tenho convivido com situações em que as questões que se relacionam com antepassados e famílias são frequentemente sinônimo de problemas diversos e, por vezes, traumáticos. Conflitos entre pais e filhos, brigas associadas a heranças, punições, banimentos, traições, frustrações, casos de abandono e reclamações de ausências paternais e maternais são alguns dos apontamentos que perpassam o tema.
Por outro lado, há aquelas associações a orgulhos familiares, brasões de sobrenomes importantes. Acesso a supostos privilégios e méritos, que formam elos codependentes de interesses diversos com ramificações muitas vezes relacionadas à manutenção de determinados status sociais que ninguém quer mudar.
A ancestralidade é algo maior do que a nossa conexão com os conflitos e os méritos do passado. Observando mais profundamente, ela cumpre o nosso sincero desejo de pertencimento, de inclusão, de conexão com a teia da vida. Tem mais a ver com memória do que com o passado. Não se trata apenas de saber de onde viemos. Faz uma profunda ligação com nossa história. Por meio dela, podemos perceber o que nos torna únicos e singulares.
Conhecer a ancestralidade pode nos ajudar a compreender melhor quem somos. A entender com mais clareza nossas identidades, nossas origens, nossas crenças e nossas culturas. Nos auxilia a compreender como nossas raízes nos influenciam. É importante lembrar que muitas das experiências de nossos antepassados são nossos comportamentos de hoje. E que, por vezes, repetimos padrões não benéficos de forma a honrar quem veio antes, ainda que se faça isso de maneira inconsciente.
Além disso, para a sabedoria dos povos originários, existe uma ancestralidade maior, que vai mais adiante do que os elos consanguíneos. Trata-se da ligação da humanidade com a natureza e suas comunidades. O povo-pedra, o povo-floresta, o povo-água, o povo-animal, o povo-ar, o povo-fogo. São comunidades de vidas que antecederam e que teceram a comunidade humana no raiar da existência. São nossos ancestrais em comum. A eles, que geram e regem desde épocas imemoriais, devemos honras e gratidão pela grande Vida, com V maiúsculo. Os ancestrais, enfim, são o elo com o nosso passado e a ponte que nos liga ao próprio futuro.
Por Kaká Werá – revista Vida Simples
É um ecologista do ser e cultivador da arte do equilíbrio da natureza humana.