Slasher da A24 chega aos cinemas a partir desta quinta-feira (6)
ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 06/10/2022, às 11h43
Em 2001, a diretora argentina Lucrécia Martel estreava nos cinemas com “O Pântano”, uma história que expõe a degradação da sociedade argentina a partir de um microcosmo familiar. A diretora infiltra sua câmera em uma casa de campo onde estão duas famílias, repletas de jovens, em meio a um verão infernal de chuvas torrenciais. Quando os adultos deixam os jovens sozinhos, a tensão entre eles aumenta.
“Morte, Morte, Morte”, novo filme da diretora holandesa Halina Reijn, conserva mais semelhanças com o longa de Martel do que muitos imaginam. A diferença é que, aqui, os jovens da geração Z são ridicularizados pela diretora em uma sátira de terror, enquanto Martel buscava esculhambar a elite argentina em toda sua decadência diante de uma roupagem mais dramática e menos de gênero.
São considerados a geração Z aqueles jovens que nasceram ao final dos anos 90 e que possuem uma relação íntima com a tecnologia e os meios digitais, principalmente as redes sociais. Eles sabem de todas as trends do Twitter, conhecem os passos das dancinhas que estão viralizando no Tik Tok e seguem influenciadores no Instagram. Tais aplicativos se tornaram imprescindíveis à sobrevivência e socialização da juventude contemporânea.
Uma pesquisa recente do Google revelou que quase metade da geração Z prefere realizar pesquisas no TikTok e no Instagram ao invés de usar as ferramentas de busca convencionais. Inclusive, esses dias, tomei conhecimento, por uma jovem da geração Z (!), que existem criadores de conteúdo no Tik Tok que resumem os filmes em poucos minutos. Ou seja, é capaz que muitos sequer pesquisem sobre “Morte, Morte, Morte” no Google ou afins e vão direto ao aplicativo para saber do se trata a história do novo terror da A24.
Antes que você abra o seu Tik Tok aí, eu explico: a trama do filme apresenta um grupo de sete jovens que decide apimentar a noite com um jogo chamado bodies, bodies, bodies - que dá nome ao filme em seu original. A brincadeira segue o estilo do famoso game "Among Us". Após um sorteio que elege, secretamente, o assassino, os demais jogadores - e potenciais vítimas - devem andar pela casa escura e pouco iluminada enquanto tentam se livrar das mãos do perseguidor e, caso encontrem um corpo no chão, devem entrar em um consenso de quem é o culpado. Caso o grupo erre ao declarar quem é o impostor, suas chances de sobreviver vão ficando cada vez menores, dado que o real assassino segue vivo.
Bem, eu digo assassino mas a ideia não é que o jogo seja mortal ou violento - o assassino faz suas vítimas apenas tocando em suas costas. Só que, desde os primeiros minutos, “Morte, Morte, Morte” deixa claro que há algo de errado no ar. A chegada de Sophie (Amandla Stenberg), junto de sua ingênua namorada Bee (Maria Bakalova), à casa do riquinho David (Pete Davidson) gera olhares e comentários dos demais presentes, principalmente entre Alice (Rachel Sennott) e Jordan (Myha'la Herrold). E qualquer brincadeira maliciosa é o suficiente para piorar o que já não está tão bom assim.
Logo, o que deveria ser divertido, se torna um terror - para elas. Quando o primeiro corpo aparece ensanguentado, as jovens entram em desespero - e, vejam só, passam a utilizar o celular como uma ferramenta de sobrevivência graças à lanterna integrada ao aparelho. Maliciosamente, Reijn se diverte com aquelas jovens, jogando umas contra as outras e incendiando as intrigas. Amizades antigas passam a ser questionadas, namoros recentes apresentam potenciais suspeitos, enquanto nós ficamos à espreita de quem está por trás das mortes que vão acontecendo sucessivamente em um ambiente escuro com sequências muito bem orquestradas pela diretora. Fica difícil adivinhar quem está por trás das mortes.
O roteiro de Sarah DeLappe, escrito a partir de um argumento de Kristen Roupenian, apresenta de forma sutil o comentário crítico direcionado a esses jovens da geração Z que parecem se importar tanto com os problemas dos outros mas que, na verdade, não dão a mínima, ou vão levando de forma hipócrita - o ápice do filme traz uma roda de acusações espetacular entre as jovens sobreviventes.
A partir do texto, prevalecem as escolhas da diretora, sagaz ao se valer do slasher - subgênero do terror conhecido por seu elenco majoritariamente jovem - para zombar, sem quaisquer limites, de uma geração que vai se degradando ao buscar o politicamente correto a todo custo. Ao final, as máscaras caem, e o que era colorido fica escuro, os sorrisos dão espaço ao choro, e as amizades de outrora se banham no sangue das vítimas.
Com muitos lançamentos vindo ainda em 2022, qual você está mais ansioso(a) para assistir? Vote no seu favorito!
- "Morte Morte Morte" (Estreia em 06/10)
- "Amsterdam" (Estreia em 06/10)
- "Lobisomem na Noite" (Estreia em 07/10)
- "Halloweens Ends" (Estreia em 13/10)
- "Bem-Vindo à Vizinhança" (Estreia em 13/10
- "A Escola do Bem e do Mal" (Estreia em 19/10)
- "Adão Negro" (Estreia em 20/10)
- "O Enfermeiro da Noite" (Estreia em 26/10)
- "Depois do Universo" (Estreia em 27/10)
- "Enola Holmes" (Estreia em 04/11)
- "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" (Estreia em 10/11)
- "Avatar: O Caminho da Água" (Estreia em 15/12)
- "Bardo" (Estreia em 16/12)
- "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" (Estreia em 23/12)
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