Renate Reinsve foi premiada no Festival de Cannes por sua atuação no longa norueguês - Divulgação/Diamond Films
CRÍTICA

"A Pior Pessoa do Mundo" é retrato da crise da meia idade a partir da perspectiva feminina | #CineBuzzIndica

Filme norueguês indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional chega aos cinemas nesta quinta (24)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 24/03/2022, às 11h24

Certas histórias nunca saem de moda. E o dilema de ser e se tornar adulto é um tema recorrente no cinema por permitir inumeráveis possibilidades e por fazer parte do amadurecimento de todos. Nos identificamos com vários personagens, principalmente aqueles que têm mais dúvidas de onde estão e o que fazer da vida. Muda-se o protagonista, a perspectiva, as motivações, os sonhos, etc, e o leque de opções para desenvolver uma história coming of age adulta é gigantesco.

“A Pior Pessoa do Mundo”, filme norueguês do diretor Joachim Trier que, ao lado de seu parceiro recorrente, Eskil Vogt, foram indicados às categorias de Melhor Filme Internacional e Melhor Roteiro Original no Oscar 2022, é uma história que faz parte da chamada Trilogia Oslo, que conta ainda com os filmes "Começar de Novo", de 2006, e "Oslo, 31 de Agosto", de 2011.

Sendo a terceira parte da trilogia - que tem a capital norueguesa e os dilemas dos protagonistas como conexão -, “A Pior Pessoa do Mundo” é uma história dividida em 12 capítulos, mais um prólogo e um epílogo, nos quais acompanhamos Julie (Renate Reinsve, em atuação que lhe valeu o prêmio de Melhor Atuação Feminina no Festival de Cannes de 2021) em sua crise da meia idade. Essa divisão por capítulos fragmenta a personagem em suas indefinições. Sua complexidade se torna mais leve por ser acompanhada cronicamente.

A única certeza de Julie é não ter certeza de nada. Ela pula de carreira em carreira, vai de médica a fotógrafa, até trabalhar em uma livraria. Ela também não quer ter filhos e está em um relacionamento estável com Aksel (Anders Danielsen Lie, ator presente nos três filmes da Trilogia Oslo). Certo dia, ao andar pelas ruas de Oslo e contemplá-la, Julie entra de penetra em uma festa e lá conhece Eivind (Herbert Nordrum). A partir do encontro, Julie passa a questionar as próprias escolhas, desde a sua carreira até o seu relacionamento com Aksel.

Apresentada como uma mulher inteligente, bem humorada e que chama atenção - e Trier realmente nos instiga a acompanhar a jornada daquela mulher que não parece se encontrar em nada, “e tá tudo bem” - Julie vai nos conduzindo por uma história de altos e baixos, medos e erros, dúvidas e questionamentos, como é a vida adulta. Por isso é tão simbólica e fantástica a cena na qual Julie atravessa a Oslo paralisada no tempo para ir em busca da única coisa que ela crê que pode dar certo para ela.

Em uma temporada onde o tema “mãe” ainda rendeu outros dois ótimos filmes, sendo eles “Mães Paralelas”, de Pedro Almodóvar, com personagens femininas fortes, e “A Filha Perdida”, de Maggie Gyllenhaal, que traz uma mãe que nunca idealizou ser mãe, surge ainda “A Pior Pessoa do Mundo” que não é apenas sobre ser mãe ou não, na verdade, o longa de Trier liberta a personagem de tais códigos sociais. “Ora”, diria o cidadão mais conservador, “aos 30 anos e ainda não achou um rumo na vida? Quando vai casar? Ter filhos? Arrumar um emprego decente?”.

Em suma, “A Pior Pessoa do Mundo” é um filme de descobertas da geração Z, aquela que não segue os mesmos passos da geração dos pais. Aquela na qual o plano de carreira não é passado de pai pra filho. Aquela na qual ter filhos nem sempre é o sonho das mulheres. Aquela na qual o amor da vida talvez não exista. Aquela na qual as incertezas fazem parte do amadurecimento. Bem da verdade, “A Pior Pessoa do Mundo” é um filme que nunca sairá de moda, afinal, cada vez mais as mulheres tem se libertado desses códigos tão enraizados em nossa sociedade ocidental. Ótimo para elas e para nós que podemos acompanhar jornadas tão revigorantes como a de Julie.


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