Sem senso do ridículo, "Adão Negro" reúne o que há de pior nos filmes de heróis - Divulgação/Warner Bros.
CRÍTICA

Sem senso do ridículo, "Adão Negro" reúne o que há de pior nos filmes de heróis | Crítica

"Adão Negro" chega a partir do dia 20 de outubro nos cinemas brasileiros

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 18/10/2022, às 18h30

Quando “Shazam!” estreou nos cinemas, em 2019, muitos afirmaram que o filme mais parecia ser da Marvel do que da DC. Isso porque o longa do diretor David F. Sandberg, estrelado pela dupla Jack Dylan Grazer (“It - A Coisa”) e Zachary Levi, transbordava bom humor e carisma em uma fórmula de matinê digna da Sessão da Tarde. Parecia uma história que estava adorando ir na contramão do lado sombrio da DC. E o resultado agradou, em grande parte, à crítica e ao público. Inclusive este que vos escreve.

Agora, em 2022, outra história do mesmo universo chega aos cinemas com a promessa de “mudar a hierarquia de poder na DC”, palavras de Dwayne Johnson, o The Rock, protagonista de “Adão Negro”, longa dirigido por Jaume Collet-Serra, responsável por “Jungle Cruise”, “A Órfã”, “A Casa de Cera”, “Águas Rasas” e tantos outros. Mas o que seria essa coisa de mudar a hierarquia? Fazer do Adão Negro o novo líder da DC superando a tríade Superman, Mulher- Maravilha e Batman? Bem, se for depender desse filme, isso vai ser bastante difícil.

“Adão Negro” inicia com um prólogo que se passa há 5000 anos no Kahndaq, país fictício onde Teth-Adam nasceu e vive como escravo. Em uma trama que remete à de Moisés da Bíblia, um povo é escravizado pelo rei e um escravo decide liderar uma rebelião. No entanto, após receber poderes dos deuses, o Adão Negro é aprisionado por fazer mau uso deles. Nos dias atuais, Teth-Adam/Adão Negro é libertado de sua tumba e está disposto a fazer justiça com as próprias mãos.

Desde o início, o Adão Negro rejeita o rótulo de herói. Quando percebe que o Kahndaq que ele conhecia se tornou um país dominado por estrangeiros, sua sede por violência aumenta ainda mais. Isso chama a atenção de Amanda Waller (Viola Davis), que decide chamar a Sociedade da Justiça para deter aquele que pode se tornar uma ameaça mundial. A ideia é ótima, mas lembramos bem de outras equipes que Waller reuniu, não é mesmo?

Não sei se isso é premeditado, mas a Sociedade da Justiça se apresenta ainda mais patética do que o Esquadrão Suicida - e estou falando da versão ruim mesmo, a de 2016. O roteiro assinado pelo trio Adam Sztykiel ("Rampage: Destruição Total"), Rory Haines e Sohrab Noshirvani (ambos de "O Mauritano") possui alguns dos piores diálogos dos filmes mais recentes de super-heróis. Eu não sentia tanta vergonha alheia no cinema desde muito tempo.

Chega a ser constrangedor ver Noah Centineo (“Para Todos os Garotos que Já Amei“) tentando funcionar como alívio cômico. Alguns irão comparar seu personagem Esmaga-Átomo ao Homem-Formiga da Marvel, devido à sua capacidade de aumentar seu tamanho em centenas de vezes, no entanto, ele está mais para aquele gigante de certo episódio do Chapolin Colorado: atrapalhado, bobo e infantilóide. Quem conseguir rir de alguma de suas “piadas” não deve ter pagado mais de 40 reais no ingresso.

A Sociedade da Justiça tem ainda a Ciclone, vivida por Quintessa Swindell (“Gatunas”), uma personagem que se fosse retirada dali você sequer sentiria falta. Seu poder de controlar o vento é tão inútil quanto tentar se abanar com uma peneira no calor de 40 graus do Rio de Janeiro. Quem se salva mesmo são o Gavião Negro de Aldis Hodge (“Leverage”) e o Senhor Destino de Pierce Brosnan - sua presença no filme me remeteu à de Sean Connery em “A Liga Extraordinária”, estou até agora tentando entender porque ele aceitou participar disso -, mas até essa relação é estragada pelo roteiro, em certa altura, os diálogos entre os dois forçam uma emoção completamente piegas.

O que é uma pena, pois essa é só mais uma das boas ideias que “Adão Negro” desperdiça. Logo no início, surge uma ótima oportunidade de denunciar algo que os Estados Unidos tanto fazem nos países do Oriente Médio: invadir para pacificar - quando na verdade sabemos que eles estão atrás das riquezas locais. O roteiro gasta uma ou duas linhas de diálogo para criticar a presença da Sociedade da Justiça em Kahndaq, mas não consegue desenvolver muito além disso. Aliás, não consegue desenvolver nada. Collet-Serra é incapaz de dar dinamismo aos elementos do filme, tudo carece de trato ao mesmo tempo que tudo parece buscar desesperadamente por uma relevância que nunca alcança.

Collet-Serra se mostra perdido diante de uma história que carece de tom e ritmo, dependendo demais do que há de pior nos filmes de super-heróis dos últimos anos: muitos efeitos visuais e cenas de ação confusas. Vá lá, você até pode se empolgar com uma cena de ação ou outra - a primeira, de introdução ao Adão Negro, realmente é bacana - mas elogiar os efeitos visuais de uma produção com orçamento milionário não faz o menor sentido para mim. É o mínimo que se espera. Só que a coisa é tão horrenda que existe uma cena em que o rosto de Dwayne Johnson aparece tão feio quanto em “O Escorpião Rei”. Lembram disso? É que a essa altura eu já estava achando tudo uma bagunça, então só fui vendo onde tudo ia chegar. E é claro que piora.

Piora quando surge o vilão. Sabe aquela coisa dos filmes de super-heróis que parecem querer enfiar mais personagens só para vender brinquedos? Fico imaginando o pessoal discutindo a ideia de colocar esse personagem ali: temos a Sociedade da Justiça e o Adão Negro, essa história está muito simples, que tal enfiarmos aí no meio um vilão que pode ameaçar o mundo, mas que na verdade servirá para fazer com que o Adão Negro termine o dia como herói? É preguiçoso e batido, já vimos essa ideia diversas vezes em outras produções do gênero, realmente não conseguiram pensar em nada mais original?

“Adão Negro” tenta, tenta, tenta e não acerta em cheio em nada. A trilha sonora assinada por Lorne Balfe até que se salva no meio de tanta coisa ruim, mas como este é um filme e não um álbum musical, não dá para assistir de olhos fechados curtindo apenas a música. Ao final, falta de tudo um pouco: carisma, graça, desenvolvimento, personagens interessantes e, principalmente, uma proposta melhor estabelecida: a leveza de “Shazam!” ou partir para o lado mais sombrio que a DC flertou em algumas produções? O resultado é frustrante: bem distante das duas possibilidades.

Com muitos lançamentos vindo ainda em 2022, qual você está mais ansioso(a) para assistir? Vote no seu favorito!


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