Filme protagonizado pela dupla Daisy Edgar-Jones ("Normal People") e Glen Powell ("Assassino por Acaso") já está em cartaz nos cinemas brasileiros
ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 12/07/2024, às 12h38
Os anos 80 e 90 no Brasil foram generosos com alguns filmes que, se não fosse a Sessão da Tarde, poderiam ter caído no esquecimento. É o caso de “A Lagoa Azul” (1980), “Os Goonies” (1985), “Curtindo a Vida Adoidado” (1986), “Ghost: Do Outro Lado da Vida” (1990), “Meu Primeiro Amor” (1991), entre vários outros. Claro, é complicado apontar que, sem a Sessão da Tarde, tais filmes não teriam o mesmo carinho do público, principalmente o brasileiro, mas é um fato que a sessão vespertina foi essencial para que eles permanecessem até hoje no imaginário dos mais nostálgicos.
Uma dessas fitas é “Twister”, de 1996, um clássico dos filmes-catástrofe, gênero que mescla ação e aventura e que se popularizou nos anos 90. Estrelado por Bill Paxton (1955-2017) e Helen Hunt (“Do Que As Mulheres Gostam”), a história se passa em Oklahoma, onde o meteorologista Bill Harding (Paxton) vai com sua noiva atrás da ex e antiga colega de trabalho Jo (Hunt) para fazê-la assinar os papeis do divórcio. Mas Jo, obcecada por tornados desde que, em 1969, viu o pai ser sugado por uma tempestade, está atualmente muito focada em uma onda de tornados que não acontece há décadas.
“Twister” só não vira uma grande sessão de terapia de casal porque, enquanto caçam os tornados, o ex-casal Bill e Jo acaba se reaproximando e acertando as contas. É um clichezão com a cara da sua época disfarçado de blockbuster mas que, lá no fundo, é, na verdade, uma história de amor. Helen Hunt e Bill Paxton esbanjam química juntos. No(s) olho(s) do(s) tornado(s), as trocas de olhares entre ambos - enquanto outras pessoas estão amedrontadas - vem cheia daquele sentimento de “ainda tem algo aqui”, quase sai faísca!
Agora, 28 anos depois, o filme de Jan de Bont ganha uma continuação intitulada “Twisters”, que não se gaba muito de carregar esse legado, pelo menos não em diálogos ou referências visuais. Na nova história sequer existe um personagem que seja filho ou parente dos personagens do longa do século passado - e isso não é uma reclamação, entenda, mas há uma estranheza em carregar essa bandeira e não fazer nenhuma referência a ela. O longa de Lee Isaac Chung (“Minari: Em Busca da Felicidade”) quer caminhar com as próprias pernas.
A trama da sequência gira em torno de Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones), uma caçadora de tempestades que se afastou da profissão após um encontro devastador com um tornado durante seus anos de faculdade. Ela passou estudar os padrões de tempestades nas telas em segurança na cidade de Nova York, mas quando seu amigo, Javi (Anthony Ramos), a convida para testar um novo sistema revolucionário de rastreamento, ela precisa deixar o medo para trás para tentar destruir os tornados e salvar vidas. No meio do caminho, ela conhece Tyler Owens (Glen Powell), um carismático e imprudente ícone das redes sociais que se diverte compartilhando suas aventuras de caça a tempestades, o que tornará o desafio ainda mais perigoso.
Com Chung na direção, confesso que fiquei bastante curioso para ver como o diretor lidaria com as rédeas de um blockbuster após ter realizado um filme de orçamento tão limitado - “Minari” custou 2 milhões de dólares, enquanto a Universal gastou 200 milhões com “Twisters”. 100 vezes mais! A minha curiosidade se devia ao fato de que, em “Minari”, Chung conduz uma história digna de um drama de Steven Spielberg: uma família e o seu sonho americano.
Vale lembrar que “Twister”, querendo ou não, tem esse apreço pela família, e em “Twisters” isso não é diferente. Assim como a Jo de Helen Hunt carregava um grande trauma consigo - que nos é mostrado já na cena de abertura -, a Kate de Edgar-Jones também é traumatizada. Além disso, ambas histórias têm um momento no qual uma ceia é compartilhada com a presença de uma figura querida e materna. Quer algo mais americano que isso? Se tem uma bandeira que tanto o novo quanto o antigo filme hasteiam, é a americana!
O que é curioso, apesar da trama se passar em Oklahoma, estado localizado no coração da América e um dos que mais tem sofrido com a intensificação dos tornados nos últimos anos, “Twisters” não opta por explorar pautas climáticas, como o negacionismo do aquecimento global - principal causador dos tais tornados mortais - este é um filme que quer apenas entreter. E tá tudo bem. Ainda há uma breve crítica à exploração do povo que teve suas terras assoladas pelos tornados, mas é algo que fica tão na superfície que é um tema que passa e logo nos esquecemos dele. O que importa mesmo é a dupla principal. Eles vão ficar juntos?
É com esse olhar para o romance - um romance-catástrofe? - que Chung explora as figuras de Powell e Edgar-Jones, a dupla principal do longa, que começa com diversas trocas de farpas mas que, com o desenrolar da trama, logo se veem envolvidos em busca de um mesmo objetivo. No entanto, tal objetivo demora a ficar claro para o espectador e “Twisters” só se decide pelo que quer lá pelo terceiro ato.
É irônico ver a história caminhar sem rumo até se encontrar, já que o mesmo acontece com os personagens que observam e caçam nuvens carregadas, ventos e tempestades em busca do tornado perfeito. No meio desse vai e vem, com boas sequências de ação, o que fica é uma sessão pipoca que, se não tem a mesma essência do primeiro - falta aquela coisa mais família -, pelo menos diverte. Ao final, “Twisters” não se tornará um clássico da Sessão da Tarde mas, enquanto nos cinemas e, futuramente, no streaming, pode ser aquela sessão em que você reúne os mais próximos atrás de diversão. E isso o filme oferece.
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