Malu, filme em cartaz nos cinemas brasileiros, nasceu a partir da ideia do diretor Pedro Freire em contar a história de sua mãe, Malu Rocha (1947-2013)
ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 04/11/2024, às 15h45 - Atualizado às 15h45
Malu, filme em cartaz nos cinemas brasileiros, nasceu a partir da ideia do diretor Pedro Freire em contar a história de sua mãe, Malu Rocha (1947-2013), uma atriz notável da cena cultural brasileira.
No filme, Malu Rocha ganha vida a partir da forte interpretação da atriz Yara de Novaes e a história revela as idas e vindas de três gerações de mulheres fortes tentando se entender apesar de suas complexidades.
O filme se consagrou no último Festival do Rio saindo vencedor dos prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (Yara de Novaes) e Melhor Atriz Coadjuvante (dividido entre Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha).
Tivemos a oportunidade de conversar com as três mulheres premiadas, o diretor Pedro Freire e com Átila Bee, que também está no elenco de Malu. Confira a entrevista a seguir:
Pedro Freire: A primeira vez que pensei em fazer um filme sobre a minha mãe foi em junho de 2013, durante o velório dela no Teatro Oficina, em São Paulo. O velório foi algo único e lindo; nós, eu e minhas irmãs, organizamos tudo com muito carinho. Pintamos o caixão dela com purpurina e oferecemos baseado de maconha e vinho aos convidados, pois era algo que ela adorava. Aquela atmosfera me fez perceber que precisava contar a história dela.
P.F.: Passei cerca de cinco anos pensando se faria um filme sobre a juventude dela ou sobre sua fase mais velha, que era mais angustiante e emocional. Foi a influência do filme Aquarius, do Kléber Mendonça Filho, que me fez decidir abordar essa fase mais difícil da vida dela, a que mais me emociona. Comecei a escrever e a reescrever o roteiro, e a Tati [Tatiana Leite, produtora] foi fundamental nesse processo, ajudando com notas e feedback. Ela leu todas as dez versões que escrevi!
Tatiana: Foi um desafio incrível. O Pedro estava tão envolvido emocionalmente que eu busquei ajudar a dar forma a essa história. Ele já tinha uma ideia clara, mas o roteiro passou por várias reescritas, e eu fui testemunha de como o projeto evoluiu ao longo dos anos.
P.F.: O roteiro amadureceu em um período de instabilidade política no Brasil, o que dificultou o financiamento. Foi só em 2021 que conseguimos um edital da RioFilme, o que foi emocionante. Defender o projeto em uma apresentação oral foi um momento de realização; percebi que havia uma força incrível na história que queríamos contar. Quando enviei o filme para o Festival de Sundance, foi uma forma de entender como o público internacional veria essa narrativa tão pessoal e, ao mesmo tempo, tão brasileira.
Yara de Novaes: Eu conhecia a Malu muito pouco, na verdade. Tinha visto algumas novelas dela e me lembrava dela, principalmente porque ela fez novelas nos anos 70 e 80. Achava que ela era bem parecida com a Sônia Braga. O processo de construção foi muito interessante. O Pedro, que foi meu diretor em uma novela, me convidou para esse projeto e trouxe o roteiro. Ele ficou um dia e uma noite comigo, falando sobre a Malu e a importância do filme.
Y.N.: A gente ficou três semanas em uma sala de ensaio, improvisando e entendendo a ação principal. Eu conheci a Juliana Carneiro da Cunha nesse processo e foi um momento de descoberta. A presença dela era fascinante; era quase um mito para mim. Ela foi absolutamente receptiva, o que tornou tudo mais fácil e rápido.
Juliana Carneiro: Foi incrível! O Pedro filmou todo o processo, o que trouxe uma dinâmica muito especial. Nos dois ou três primeiros dias, ele ficou um pouco desesperado porque tinha convidado atrizes de teatro e a abordagem estava muito teatral. Mas, aos poucos, fomos ajustando isso. O ensaio nos uniu e criou uma confiança que foi fundamental para o filme.
Átila Bee: O Pedro me deu a liberdade de inserir uma performance teatral na apresentação do Tibira. O texto que usei é de um espetáculo chamado "Joãozinho da Gomeia, o Rei do Candomblé". A conexão com figuras como Madame Satã me ajudou a construir esse personagem. Eu sempre admirei a figura do Madame Satã e essas energias estavam definitivamente presentes no Tibira.
P.F.: O monólogo de Átila no "Joãozinho da Gomeia" me impressionou profundamente. Eu sabia que precisava trabalhar com ele, e sua energia trouxe uma dimensão única ao Tibira. O Madame Satã, sem dúvida, foi uma referência essencial na criação desse personagem.
Carol Duarte: Jamais imaginei dividir um prêmio com a grande Juliana Carneiro da Cunha. Fiquei realmente surpreendida. Para mim, era uma honra enorme, especialmente porque sempre tive um profundo respeito e admiração por ambas [Juliana e Yara]. A experiência no set foi muito amorosa e afetiva. Tivemos momentos desafiadores, mas sempre com muita cumplicidade entre nós.
Carol Duarte: Tem uma cena da Barata que foi muito difícil de fazer. Era uma mistura de seriedade com cômico, e às vezes virava uma palhaçada entre nós. A Juliana tem um jeito único de trazer o cômico à tona, e essa cena demandou muita concentração.
J.C.: Exatamente! Havia uma cumplicidade entre nós, que parecia que já nos conhecíamos de outras vidas. Isso fez a diferença. O Pedro sempre filmava, capturando a essência dos nossos ensaios. O que eu mais lembro desse período foi a felicidade que sentimos juntas.
Y.N.: Sem dúvida. Foram dias de felicidade, e agora, depois de dois anos, estamos revivendo essa alegria com o reconhecimento do nosso trabalho. É como tomar goles de milkshake de felicidade!
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