Faça Ela Voltar trata de luto sem se esquecer que, acima de tudo, é um terror | #CineBuzzIndica
Novo filme da dupla Michael e Danny Philippou, diretores de Fale Comigo (2022), chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, 21 de agosto

O terror contemporâneo encontrou no luto uma de suas justificativas mais frequentes. Filmes como O Babadook (2014) e Hereditário (2018) usam as perdas pessoais dos personagens para explicar a presença do mal. Muitas vezes, isso sufoca o gênero diante do drama, transformando o medo em mera ilustração de um discurso psicológico. Faça Ela Voltar, novo trabalho dos irmãos Danny e Michael Philippou (Fale Comigo), parte do mesmo ponto de partida — personagens esmagados pela perda —, mas não se deixa aprisionar por ele. O filme lida com o luto sem esquecer que, acima de tudo, é um terror cru, gráfico e perturbador, feito para colocar o espectador em permanente estado de aflição.
A trama acompanha os irmãos Andy (Billy Barratt, Kraven, o Caçador) e Piper (Sora Wong) que, após a morte do pai, passam a viver sob a guarda da excêntrica Laura (Sally Hawkins, A Forma da Água). Na casa remota em que agora habitam, eles também conhecem Ollie (Jonah Wren Phillips, How to Make Gravy), um novo “irmão” misterioso desde o primeiro instante.
O elenco sustenta esse mergulho nos personagens com firmeza: Hawkins constrói uma Laura que transita da simpatia ao desespero até se tornar um retrato perturbador da recusa em aceitar a perda, enquanto Barratt e Wong conferem densidade emocional e cumplicidade à dupla de órfãos, e Jonah Wren Phillips encarna Ollie com uma fisicalidade assustadora, garantindo algumas das imagens mais aflitivas do longa.
Todos os personagens carregam uma perda: Andy e Piper enfrentam a ausência do pai, Laura tenta preencher o vazio deixado pela filha morta. Mas o filme não se resume a isso. Ele mostra que os atos de amor também podem ser atos de horror, e que o vazio da perda é tão aterrorizante quanto a materialidade da violência que irrompe em cena.
O desconforto não nasce apenas do que vemos, mas também do que sentimos junto com os personagens. E este é um ponto que outro terror deste ano, Juntos, falha: nele existe essa carência de estímulos sensoriais a partir do terror físico, algo que no longa dos Philippou transborda.
É possível citar também A Hora do Mal, já que ambos os filmes lidam com múltiplos personagens. Porém, diferentemente do longa de Zach Cregger, Faça Ela Voltar dos Philippou se mostra muito mais eficiente na montagem e na condução da história. O roteiro consegue desenvolver os protagonistas — é difícil dizer quem é, e se existem, coadjuvantes — enquanto conduz o mistério central, construindo uma narrativa que só cresce em intensidade.
O destino desses personagens mantém o espectador atento, sem que o ritmo seja quebrado ou a tensão diminuída, reforçando a sensação de que algo pior está sempre à espreita. Nos importamos com os que têm mais aspecto de vítima e nos preocupamos com as atitudades daqueles que têm mais aspecto de vilania.
Outro mérito está em sua recusa em se explicar demais. Os Philippou constroem símbolos — a água, a chuva, a piscina vazia, a palavra de segurança entre os irmãos, o círculo, as fitas VHS que Laura assiste — e não os decifram por completo. Cabe ao público montar esse quebra-cabeça, sem muletas de roteiro ou personagens secundários que surgem apenas para explicar o que estamos observando. Em um cenário no qual o cinema de terror muitas vezes se mostra excessivamente didático, essa escolha é um alívio e uma prova de que os Philippou confiam na audiência.
Violento, melancólico e emocionalmente exaustivo, Faça Ela Voltar não busca a catarse por meios fáceis. O terror, um dos melhores do ano para o gênero, reafirma a disposição dos Philippou em tensionar a audiência, misturando horror psicológico e terror gráfico como duas faces inseparáveis. No fim, o filme nos lembra que o luto pode ser o mais devastador dos monstros e que, por mais dolorosa que seja, a aceitação talvez seja o único ritual possível.
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