"A Mulher Rei" mira a jornada épica de guerreiras africanas em blockbuster revisionista e empoderado - Divulgação/Sony Pictures
CRÍTICA

"A Mulher Rei" mira a jornada épica de guerreiras africanas em blockbuster revisionista e empoderado | #CineBuzzIndica

Viola Davis estrela drama histórico de ação que chega aos cinemas nesta quinta-feira (22)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 21/09/2022, às 17h00 - Atualizado em 23/09/2022, às 19h00

Se 2022 não é um ano dominado pelos super-heróis, em vista que a Marvel não invadiu o top da bilheteria mundial como aconteceu em anos anteriores - “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” aparece em 3º lugar, enquanto “Thor: Amor e Trovão” é apenas a 6ª maior arrecadação do ano, logo atrás de “Batman” - podemos assegurar que outros heróis estão invadindo os cinemas. Heróis bem mais reais, diga-se de passagem.

Tom Cruise não é um super-herói, mas é dono de feitos heróicos em suas produções e ainda carrega consigo o posto de maior bilheteria do ano com o seu blockbuster “Top Gun: Maverick”. Vale lembrar que muitos declararam à época de seu lançamento que “Maverick” enaltecia o orgulho hétero e militar. Agora, ele encontra um “adversário” à altura: “A Mulher Rei”, longa que enaltece o orgulho feminino. Diria mais: um filme empoderadamente feminista.

A trama do filme é inspirada nos eventos reais ocorridos no Reino do Daomé, um dos estados mais poderosos da África nos séculos XVIII e XIX. Nele, acompanhamos a história de Nanisca (Viola Davis), general da unidade militar feminina, e sua nova recruta, Nawi (Thuso Mbedu), que se unem a outras guerreiras para derrotar os inimigos que violaram sua honra, escravizaram seu povo e ameaçaram destruir tudo pelo que viveram.

Podemos notar em “A Mulher Rei” algo mais ou menos semelhante ao que Jordan Peele fez em seu “Não! Não Olhe!”, dando aos negros o protagonismo de histórias nas quais, costumeiramente, eles apareciam apenas como coadjuvantes ou faziam pequenas pontas como personagens com uma ou duas falas. Como destacado por Viola Davis na coletiva de imprensa: “‘A Mulher Rei’ foi feito para que as mulheres negras possam se reconhecer nas telonas” - e você não precisa ser uma guerreira para isso.

Posso adicionar também que “A Mulher Rei” é revisionista por se assemelhar ao feito de “Pantera Negra”, lançado em 2018, um marco no cinema de super-heróis por possuir um elenco formado majoritariamente por atores negros. Diante disso, o longa protagonizado por Viola Davis é uma fita rara por buscar mostrar as raízes africanas a partir da perspectiva das guerreiras do reino do Daomé, as Ahosi, que inclusive inspiraram as Dora Milaje, mulheres da guarda real de Wakanda no filme da Marvel.

O que faz de “A Mulher Rei” revisionista é o fato de que a produção assinada pela diretora Gina Prince-Bythewood (“The Old Guard”), tenha mulheres não apenas nos papéis principais, elas também assumem postos importantes como roteiro (Maria Bello), direção de fotografia (Polly Morgan) e edição (Terilyn A. Shropshire), para citar só alguns. Mas não é só isso.

Os homens da história não são completamente escanteados, mas dois deles aparecem falando um português estranho, enquanto outros, como o rei Ghezo, interpretado por John Boyega (“Star Wars”) não são protagonistas, eles estão sempre cercados de mulheres e se mostram sujeitos a elas. Nessa luta do bem contra o mal típica de filmes de guerra, o próprio "lado do mal" é composto inteiramente por homens, enquanto as mulheres é que lutam por um bem maior.

É certo que “A Mulher Rei” ainda é uma produção hollywoodiana financiada por um grande estúdio, mas dribla isso bem, ou melhor, se apropria dessa estrutura de blockbuster norte-americano para expandir sua narrativa revisionista e até de resistência. Ao final, este é um filme que levanta suas bandeiras, se orgulhando delas, e segue com elas hasteadas até o fim, sem deixar de ser um épico histórico com ótimas sequências de ação mas que também busca ser empoderado. Afinal, é assim que se começa a mudar a história.


Com muitos lançamentos vindo ainda em 2022, qual você está mais ansioso(a) para assistir? Vote no seu favorito!

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