Novo filme do diretor de "A Rocha" e "Transformers" estreia nos cinemas nesta quinta (24)
Qual a semelhança entre “Velocidade Máxima”, “Fogo Contra Fogo”, “Duro de Matar” e “007 contra GoldenEye”? Se você respondeu que são todos filmes de ação, acertou. Mas a semelhança entre eles vai além: são todos filmes de ação dos anos 90, cada um com suas doses de napalm, em maior ou menor grau. E muitos cineastas desse período, marcado pelas explosões e pelos tiroteios, se deliciaram com o avanço do uso dos efeitos especiais para deixarem seus filmes ainda mais pirotécnicos.
Se para alguns cineastas o napalm e as rajadas de bala eram alguns dos principais atrativos de uma história, para outros diretores dos mesmos anos 90, o entrelaçamento entre personagens de núcleos distintos era mais instigante. “Short Cuts - Cenas da Vida” e “Pulp Fiction: Tempo de Violência” foram dois dos primeiros exemplares do estilo que surgiu no âmago do cinema independente hollywoodiano e foi explorado à exaustão, resultando em uma fórmula que se desgastou na mesma velocidade com que o explosivo cinema de ação enfraqueceu.
Quem não nega estar desgastado ou ter saído de moda é Michael Bay. Após se divertir com os autobots e os decepticons na série de filmes “Transformers”, o diretor - que também “nasceu” para o cinema nos anos 90 ao estrear com “Os Bad Boys” - volta às origens numa trama urbana pelas ruas de Los Angeles, em roteiro assinado por Chris Fedak (“Prodigal Son”), baseada no thriller dinamarquês “Ambulancen”, de 2005, dirigido por Laurits Munch-Petersen.
Chamar Michael Bay de mestre seria uma heresia, mas é admirável como o diretor consegue aplicar o seu estilo em uma história genérica e transformá-la em uma experiência frenética que tem a sua cara. Para alguns, falar isso pode soar como um desastre, pois Michael Bay coleciona detratores na mesma medida que as explosões acontecem em seus filmes. Pelo menos, àqueles que conhecem o diretor e ainda acreditam no seu potencial, é possível que “Ambulância: Um Dia de Crime” agrade pelo que é: um thriller de ritmo alucinante.
Na história, Will Sharp (Yahya Abdul-Mateen II, de “Matrix Resurrections” e “A Lenda de Candyman”) é um ex-fuzileiro naval desesperado por dinheiro para pagar o tratamento médico de sua esposa. Sem conseguir o montante, ele pede ajuda ao seu irmão de criação, Danny (Jake Gyllenhaal, de “Homem-Aranha: Longe de Casa”), um criminoso que propõe a Will participar do maior assalto a banco na história de Los Angeles. Após muita recusa, Will aceita a proposta. E então, como acontecia nos bons anos 90, a história dos irmãos Will e Danny cruzará caminhos com o dia a dia nada fácil da socorrista Cam (Eiza González, de “Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw”). Tendo a viatura médica como único veículo para fuga, a improvável dupla de irmãos fará de tudo para fugir da polícia, manter seus reféns vivos e, é claro, sobreviver ao final do dia.
Conforme a história avança, o trio Will, Danny e Cam compete e se digladia pelo heroísmo. O Will de Abdul-Mateen II carrega consigo o fato de ser um ex-soldado - e os norte-americanos veneram e respeitam seus heróis de guerra -, o carismático Danny de Gyllenhaal é um estrategista genial que conquista o espectador com suas tiradas, enquanto a Cam de González é aquela com a qual o espectador mais se empatiza, sua bravura é mais genuína que a da dupla de irmãos e, mesmo que ela tente não se envolver pessoalmente com as vítimas de seu trabalho, dessa vez será diferente.
Sendo o melhor Michael Bay em muito tempo, o que ninguém avisa ao espectador antes da sessão é que “Ambulância” talvez seja o seu filme que mais se aproxima do estilo - visual e de decupagem - do saudoso Tony Scott, diretor do também noventista “Dias de Trovão”, e dos caóticos “Incontrolável” e “Domino - A Caçadora de Recompensas”. Há uma saturação das cores da Los Angeles filmada por Bay que se assemelha ao que Scott aplicava em seus filmes. Ainda, há uma afetação na forma com que Bay articula as cenas: sua câmera busca os ângulos mais absurdos como se estivesse filmando um videoclipe, os drones são utilizados desenfreadamente a fim de nos levar para o olho do furacão e a trilha sonora de Lorne Balfe (“Viúva Negra” e “Missão: Impossível - Efeito Fallout”) é a última camada de adrenalina aplicada em “Ambulância”.
Ao final, juntando tudo isso às referências a “Os Bad Boys” e a “A Rocha”, que mesmo breves podem tirar risadas do espectador que melhor conhece o trabalho do diretor, “Ambulância” vai se tornando quase um guilty pleasure, termo recusado por muitos críticos que afirmam: se você gostou de um filme não há porque se sentir culpado por tal. O que é uma verdade. No entanto, o sentido de “Ambulância” parecer um guilty pleasure é pelo fato de como uma proposta tão simplória que parece ter saído dos anos 90, aliada à condução caótica e virtuosa de Michael Bay e à edição eletrizante formam um todo tão específico que a sensação é de estarmos assistindo a uma sessão bastante descompromissada, como há muito tempo Michael Bay não produzia.