Há pontos positivos no filme, o principal deles sendo a motivação para os assassinatos. O novo serial killer, desde o princípio tratado como um possível imitador de Jigsaw pela sua forma de matar, não visa apenas pessoas corruptas e maus elementos da sociedade, mas especificamente policiais corruptos, que agem de má-fé na condução de seus trabalhos, prejudicando inocentes.
O longa estava previsto para estrear em 2020, mesmo ano em que protestos contra a violência policial nos Estados Unidos eclodiram após os assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor e outras tantas pessoas negras. Por conta da pandemia de coronavírus, o filme foi adiado, mas ainda surge em um momento em que os movimentos estão organizados e pedindo por reformas nas polícias, e o “novo Jigsaw” se insere nesse espaço.
No entanto, o seu método é muito mais urgente e menos político: ele não pretende protestar e pedir por mudanças; ele corta o mal pela raiz matando esses policiais corruptos. É a partir daí que surgem as cenas grotescas com as quais os fãs estão mais do que acostumados e que, certamente, os levarão de volta aos cinemas para curtir “Espiral”.
Tudo o que há de melhor em “Jogos Mortais” está no novo filme: mortes bem elaboradas e de fazer desviar os olhos da tela de agonia, uma trama coerente e um final de deixar o queixo caído, como é clássico da franquia. Porém, um de seus maiores problemas é o seu protagonista, o detetive Zeke Banks, interpretado por Chris Rock, famoso por atuar em comédias.
Durante toda a uma hora e meia de filme, fica difícil se desvencilhar da imagem de Rock vista em filmes como “Um Pobretão na Casa Branca” (2003) e “Gente Grande” (2010); ou não se lembrar de suas tiradas engraçadas ao dublar a zebra Marty, na trilogia “Madagascar”, ou ao narrar “Todo Mundo Odeia o Chris” (2005-2009), comédia inspirada em sua própria vida.
Rock não conseguiu ser um Adam Sandler em “Joias Brutas’” (2019) e, a todo momento, parece que o personagem está se esforçando para parecer sério ou segurando uma piada, o que acaba prejudicando a experiência. Além disso, o detetive encontra soluções muito fáceis para os crimes, frequentemente através de lampejos de entendimento, o que acaba irritando ao longo do filme.
De qualquer forma, “Espiral: O Legado de Jogos Mortais” deve satisfazer os fãs mais fiéis da franquia – já que repete a mesma fórmula, embora atualizada e como uma fotografia infinitamente melhor – e ainda abre caminho para sequências no futuro. O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros.