Novo capítulo da franquia de Michael Myers chega aos cinemas nesta quinta (14)
Certa vez, eu fui ao cinema assistir ao projeto “Grindhouse”, uma homenagem às fitas de terror dos anos 70 que consistia na exibição de dois filmes, “Planeta Terror” e “À Prova de Morte”, além de alguns trailers falsos. O que era brincadeira acabou se tornando realidade: um dos trailers exibidos, o de “Machete”, virou filme e ganhou até uma sequência - intitulada “Machete Kills”, lançada em 2013.
Anos depois, na sessão de “Machete Kills”, foi exibido outro trailer falso - pelo menos até agora -, o de “Machete Kills Again… in Space”, e ao assistir “Halloween Kills: O Terror Continua” - projeto que nasceu por acaso - lembrei de alguns lugares onde Jason Voorhees, outro vilão icônico do slasher, já foi parar, como o espaço, na galhofa “Jason X”, quando a franquia "Sexta-Feira 13" buscava ideias para sair da mesmice e acabava abraçando o ridículo.
Eu escrevi tudo isso para dizer que o futuro da franquia “Halloween” - desenterrada em 2018 em um filme que surgiu como uma grata e nostálgica surpresa - parece fadado ao tom de paródia trash. “Halloween Kills: O Terror Continua” é um filme que sequer deveria existir e que samba na onda do entusiasmo dos fãs - e claro, no montante arrecadado pelo filme anterior -, entregando o que eles querem ver: muitas mortes e pouquíssima história. Mas o que se esperar de uma franquia que já não consegue explorar nada além disso?
Dentro dessa pouca história, o que temos é a continuação direta do capítulo anterior: Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) é levada ao hospital, junto de sua filha e neta, para se recuperar dos ferimentos sofridos no embate com Michael Myers no filme predecessor. Enquanto isso, o assassino mascarado escapa da casa em chamas para trilhar um caminho sangrento de vítimas em Haddonfield.
Se tem algo em “Halloween Kills: O Terror Continua” que os fãs vão gostar é o fato deste filme ser um dos mais violentos da franquia, chegando próximo ao nível do remake de 2007, dirigido por Rob Zombie. O fã saudosista defenderá com unhas e dentes - facas não, por favor - tais momentos, afinal, este é um filme de um assassino frio. No entanto, sendo a 9ª sequência da franquia, é só isso o que conseguem fazer? Fica evidente que a maior fraqueza da franquia é ser refém dos assassinatos de Michael Myers. Não há nada conceitualmente novo em “Halloween Kills”, a não ser novos personagens que sequer apareceram ou foram citados no filme de 2018 - um flashback aqui e outro ali forçam justificativas para a existência deles - e isso é um problema. Ora, se este filme é uma sequência e nos apresenta novos personagens, eles poderiam ao menos enriquecer a narrativa. O que não acontece. Eles existem para um único propósito: padecer pelas mãos e pela faca de Michael Myers.
E no meio disso tudo, onde fica Laurie Strode, líder do trio que os materiais de divulgação fizeram tanta questão de tratar como “as três gerações fortes de Strodes”? A Laurie de Jamie Lee Curtis é relegada a uma cama de hospital durante boa parte do filme. A personagem de Judy Greer, tão esperta ao final do antecessor, aqui, cai em um clichê máximo dos slashers: não verifica se o assassino está morto após golpeá-lo. Quem consegue se destacar no meio dessa apatia toda é a Allyson de Andi Matichak, jovem empoderada que decide caçar o algoz de sua avó. No entanto, o filme a sabota e dá ao personagem de Anthony Michael Hall - o nerd Brian de “O Clube dos Cinco”, lembram? - o papel de vingador de Haddonfield.
Mas até que surge algo bom dessas novas caras em “Halloween Kills”, pois, dessa forma, o filme traz à franquia algo que sempre lhe faltou e que “Pânico”, um slasher que revigorou o subgênero, tem: uma cidade com passado amargo devido a uma lenda que a amaldiçoa. O que acaba ficando frouxo no roteiro assinado pelo diretor David Gordon Green em conjunto com Danny McBride e Scott Teems é uma crítica social às pessoas de Haddonfield que, em sua gana de fazer justiça, acabam se tornando os monstros da situação. Na cena seguinte, essa crítica é descartada como qualquer outra vítima de Michael. É como se os roteiristas buscassem incorporar certo discurso à narrativa apenas por fazê-lo. No final das contas, só temos mais um corpo estendido no chão.
Por escolhas banais e aleatórias como essa - fora a escalação do ator tragicômico Jim Cummings, algo que estou tentando entender até agora -, tudo em “Halloween Kills” se revela produto do que a franquia já vem nos provando há décadas: não há muito mais a ser contado sobre Michael Myers. Os criadores John Carpenter e Debra Hill já contaram tudo o que precisávamos saber em 1978.
Ao final, para piorar o que já não vinha tão bem, “Halloween Kills: O Terror Continua” encontra uma das explicações mais estapafúrdias para o poder maligno de seu protagonista mascarado - "Sexta-Feira 13 - Parte 6: Jason Vive" soube justificar a imortalidade de Jason de uma maneira absurdamente crível que fazia sentido dentro do contexto daquele universo. O resultado é o que se espera de uma continuação caça-níquel: um filme feito para os fãs vibrarem a cada facada de Michael Myers. E só.