O filme, dirigido pelo coletivo de diretores Road Kill Superstars (RKSS), chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 18 de julho
Uma coisa que tem me incomodado no cinema recente é uma certa necessidade de passar uma mensagem ou de politizar. E não estou falando que cinema e política não se misturam, não me entendam errado. Na verdade, o problema real mesmo é quando a coisa é mal feita, como acontece em “Hora do Massacre”, intitulado “Wake Up” no original. Durante boa parte da projeção eu fiquei me perguntando: esse filme é reacionário e está zombando de ativistas ou realmente se importa com eles? Depois de mais alguns minutos, outra pergunta surgia em minha cabeça: alguém importa nisso aqui? Que tipo de pessoas são essas? Isso tudo é mesmo apenas um massacre e um exercício niilista sintomático do adoecimento da nossa sociedade?
Lendo a sinopse, notamos que esse é um típico filme de sobrevivência com jovens tentando não padecer para um assassino. Não precisamos filosofar e apelar para Nietzsche, já que a história passa longe disso com seu subtexto tão frágil. A trama se desenrola em torno de um grupo de jovens ativistas ambientais que invade uma loja de móveis a fim de vandalizá-la em forma de protesto, porém, eles acabam ficando presos com um segurança obcecado por armas. O que começa com um protesto, rapidamente se transforma em uma luta por sobrevivência e um massacre onde cada jovem deve fazer o que for preciso para sobreviver.
Bem, quando a coisa começa a se desenvolver, fica claro que “Hora do Massacre” tem algo a dizer, só não sabe como. O coletivo de diretores Road Kill Superstars (RKSS), composto por Yoann-Karl Whissell, François Simard e Anouk Whissell, até consegue empregar uma estética autêntica, com bom uso dos momentos escuros, do sangue nas cenas de morte - nem exagerado demais e nem escondido, como acontece nas obras com classificação PG-13, aqui a classificação é para maiores de 16 anos -, no entanto, o trio acaba se perdendo nessa proposta de colocar a geração Z, representada pelos jovens ativistas, enfrentando um armamentista, representado pelo segurança da loja.
Em uma história na qual um lado é a caça e o outro é o caçador, consequentemente, o espectador se apega a um deles, seja para torcer para que o caçador consiga alcançar suas vítimas ou para que os caçados consigam escapar daquele que quer lhes fazer mal. Mas como torcer para esses jovens ativistas tão mal construídos? Fica difícil se importar com eles, além do mais, os diálogos são bem ruins, reservando até momentos de vergonha alheia, como quando uma das personagens diz que a loja de seu pai fechou por causa de lojas como aquela. Aposto que na sua sessão alguém dará risada disso, pois a frase é utilizada em um momento bastante aleatório, é como se alguém na sala de roteiristas tivesse dito “precisamos encaixá-la em algum momento”.
Do outro lado desse conflito, temos um segurança com ódio e sede por vingança. Um sociopata armamentista que com certeza tem a bandeira norte-americana hasteada em seu quintal. Bom, eu não vou questionar quem for torcer por ele, afinal, os jovens ativistas são tão inimigos do carisma que vê-los sendo mortos é um alívio. Mas, é isso mesmo que “Hora do Massacre” pretende incitar? Os diálogos “dramáticos” não parecem evidenciar esse desprezo pelos jovens, todavia, existe um prazer pela violência nas cenas de morte que me fez questionar, em diversos momentos, se eu deveria ficar ou não excitado com aquela brutalidade. A persona do segurança diz que não, mas a insignificância dos jovens diz que sim. Sabe a crítica que muitos fazem ao primeiro “Tropa de Elite” (2007)? Que ele denuncia a violência policial ao mesmo tempo que parece se encantar por ela? É por aí.
Posso citar inúmeros exemplos que fazem o que “Hora do Massacre” tenta mas não consegue. O mais recente é “Morte Morte Morte” (2022), e não estou discutindo sua qualidade, se ele é bom ou ruim - eu, particularmente, adoro -, o ponto-chave é que o longa da diretora Halina Reijn zomba descaradamente da geração Z. Goste disso ou não. Jeremy Saulnier, diretor de “Ruína Azul” (2013) e “Green Room” (2015), é outro que sabe construir uma atmosfera condizente à narrativa. O tom sombrio de suas obras é único e, por toda a duração, tememos pelos personagens porque o mal está à espreita. Falta isso em “Hora do Massacre”, o mal está ali, mas pouco nos importamos com ele e menos ainda se ele alcançar algum dos jovens.
Quer outro exemplo? E esse talvez seja o melhor que eu possa dar: “O Homem nas Trevas” (2016) coloca um grupo de jovens ladrões invadindo a casa de um homem aparentemente frágil, só que não. Quem assistiu ao filme sabe bem que o homem, cego, não é alvo fácil e tampouco bonzinho, e aí que reside a sua maior qualidade: não há lado certo para torcer - mas você poder escolher um, fique à vontade - o mais importante é como o diretor Fede Alvarez arquiteta tudo. A tensão crescente e as atitudes dos personagens são cruciais para que a história seja envolvente.
“Hora do Massacre” fica aquém das próprias tentativas de surpreender o espectador, já que o faz de idiota com clichês que já estamos cansados de ver no terror: pessoas que perdem litros de sangue e voltam dos mortos, armadilhas dignas de um MacGyver e celulares que ficam sem rede - a justificativa para tal é tosca. Em suma, o longa dos RKSS pode até ter boas cenas de morte, mas justamente por não se decidir em o que quer ser, e nem como fazê-lo, é uma daquelas fitas que é descartada logo após assistida, pelo menos, passa rápido. Aliás, essa deveria ser a única mensagem que o filme deveria se preocupar em transmitir: muita violência e personagens estúpidos em breves 90 minutos. Seria muito mais honesto.
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