Filme estrelado por Simu Liu apresenta visuais deslumbrantes e cenas de luta épicas
Retratar o surgimento de uma lenda nas telonas poderia ser uma tarefa difícil para outros estúdios, mas após lançar mais de 20 títulos, a Marvel entendeu o fator-chave para entregar um resultado excelente: dar poder e liberdade para os profissionais retratarem suas próprias culturas e vivências nos cinemas. Foi assim que o diretor e roteirista Destin Daniel Cretton (“Temporário 12”) apresentou uma história épica de artes marciais sem deixar a essência dos filmes de heróis de lado em “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”.
Para transformar os quadrinhos do mestre do kung-fu em um longa grandioso, não poderiam faltar duas coisas: cenas de lutas e muita ação. E, nesse quesito, assim como em muitos outros, “Shang-Chi” não decepciona. O personagem, criado quando os filmes de artes marciais estrelados por Jackie Chan e Jet Li dominavam Hollywood, é interpretado pelo ator Simu Liu, que já trabalhou como dublê e treinou sete modalidades de artes marciais para o papel, dentre elas: Kung Fu chinês tradicional, Wushu, Hong Chen, Muay Thai, Silat, Krav Maga e Jiu-Jitsu.
"Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" começa apresentando a origem do anéis, que concederam imenso poder e vida eterna a Wenwu (Tony Leung). Com os artefatos encontrados na China Antiga, ele fundou um grupo poderoso e agiu nas sombras durante os séculos, influenciando a história da humanidade para seguir o caminho que o beneficiaria.
No entanto, quando conhece a guerreira Jiang Li (Fala Chen), ele aposenta os anéis e abandona a vida de crimes para que eles possam se casar e viverem felizes juntos com os dois filhos, Shang-Chi e Xialing, mas o passado sangrento do vilão retorna quando a paz de sua família é destruída.
É também por esse motivo que Shang-Chi passa a ser criado para se tornar um guerreiro implacável. Porém, relutante a assumir o legado da Sociedade dos Dez Anéis, ele decide fugir de seu destino e passo anos negando sua verdadeira identidade enquanto vive uma vida normal nos Estados Unidos.
Quando ele já não consegue mais se esconder, a trama de "Shang-Chi" evolui para algo diferente de tudo que a Marvel já nos apresentou até então. Em vez de embarcar em uma uma jornada pelos confins da galáxia ou mostrar a Terra ser destruída por mais uma invasão extraterrestre, o longa nos leva para dentro uma nova mitologia, visando a ancestralidade, a cultura e a equidade, e misturando com um toque de magia.
Ao lado de Katy (Awkwafina), sua melhor amiga de infância, eles mostram de diferentes formas como as famílias podem ser complicadas - algumas mais do que as outras -, mas no fim não importa de onde você veio e, sim, qual o caminho que você deseja seguir. Isso fica mais evidente com a chegada de Xialing (Meng’er Zhang) para completar o trio de protagonistas. A guerreira deixa de lado o rancor que sente pelo irmão por tê-la abandonado e - depois de construir o seu próprio nome e tornar uma poderosa lutadora, mesmo tendo sido proibida na infância por ser mulher - decide encarar o pai para proteger algo muito mais importante.
Quando são capturados e acabam indo parar na China, eles precisam encontrar uma forma de proteger o legado deixado pela mãe em Ta Lo, um vilarejo secreto repleto de criaturas fantásticas. Aqui se sobressai as equipes de efeitos visuais e de fotografia que, tirando pouquíssimos momentos em que os efeitos especiais foram enfatizado nos animais gigantes, conseguiram criar cenas tão bonitas que poderiam ter sido facilmente tiradas de um live-action do estúdio Ghibli.
O filme também se destaca por apresentar uma história sobre luto, família e como esses laços podem moldar quem somos, de um jeito bom ou ruim. Já que para sobreviver, o herói precisa unir tudo que aprendeu, com a doçura da mãe e a brutalidade do pai para proteger aqueles que ama.
Todo o elenco entrega essa carga emocional com maestria. Desde Wenwu, que foge do estereótipo de vilão com o desejo reunir a família novamente após ser dominado pelo luto; Xialing, que precisou aprender a sobreviver e provar seu valor; Shang-Chi, que teve que perdoar a si mesmo por quase ter se tornado tão cruel quanto o pai; a tia da dupla, Jiang Nan (Michelle Yeoh), que valoriza e passa importantes ensinamentos aos sobrinhos; e, é claro, Katy, que mesmo sem superpoderes não hesitou em ajudar a salvar os amigos e é, com toda certeza, a personagem mais divertida do filme.
Outros detalhes que compõem o longa valem ser mencionados, como a trilha sonora que ficará marcada pela canção “Hotel California”, a breve (e importante!) participação de Wong (Benedict Wong) e as duas cenas pós-créditos que vale a pena esperar para conferir. Apesar das grandes expectativas do público, o retorno do Abominável, que está presente em “O Incrível Hulk” (2008, é completamente esquecível quando comparado com a beleza da Grande Protetora.
Além de tudo isso, para os curiosos sobre a relação com "Homem de Ferro 3", ela não fica apenas na menção da Sociedade dos Dez Anéis, que foi usada como fachada de um grupo terrorista para atacar Tony Stark (Robert Downey Jr.). Eles encontram uma solução divertida e surpreendente, que serve de guia para ambientar o público por este novo mundo.
Por fim, é importante relembrar o legado e a importância de “Pantera Negra” (2018), que representou e inspirou diversas pessoas negras, além de abrir as portas para que a Marvel pudesse investir em personagens ainda carentes de representação em grandes produções, como Shang-Chi e, em breve, Kamala Khan (na série "Ms. Marvel"), de origem paquistanesa, e a heroína latina America Chavez (em "Doutor Estranho 2"). No caso do novo filme da Marvel, é a primeira vez que um ator asiático é protagonista de um projeto do estúdio, além de mais de 90% do elenco também ser composto por pessoas de origem oriental.
“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (2).