Novo filme de Pablo Larraín chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27)
“Assim, a jovem se casou com o príncipe encantado e eles viveram felizes para sempre”. Quantas vezes você já viu essa história se repetir nas animações Disney? Contos de fadas como os que crescemos sonhando não acontecem no mundo real e a história de Lady Dié uma prova disso.
Diana Spencer se casou com o príncipe Charles, primeiro na linha de sucessão do trono inglês, no dia 29 de julho de 1981, na St Paul's Cathedral, em Londres. A união durou 15 anos, os dois tiveram dois filhos, William e Harry, até que o conto de fadas começou a ruir.
No longa de Pablo Larraín, a história segue um rumo diferente da série “The Crown” por não se apegar aos detalhes e fatos verídicos que envolvem uma das figuras mais icônicas da história. Em “Spencer”, o cineasta procura desenvolver a fragilidade, as angústias e os medos que cercam Lady Di durante o feriado de Natal de 1992, quando as traições do príncipe Charles já circulavam pela mídia.
O diretor abre sua história avisando ao público que o longa, que chega aos cinemas em 27 de janeiro, é “uma fábula tirada de uma tragédia real”. A cena de abertura ilustra bem quem foi Diana e porque ela foi tão admirada pelo povo, ao mostrar a aristocrata pedindo informação em um restaurante de beira de estrada após se perder no caminho para o castelo de Castelo de Sandringham, em Norfolk, com a gentileza de quem mesmo sabendo que era uma das figuras mais famosas do mundo, nunca deixou a bondade de lado. E toda essa adoração pela Princesa de Wales acaba no momento em que ela entra nas propriedades da realeza.
No silencioso castelo, mesmo longe das câmeras dos paparazzis, Diana é observada o tempo inteiro. Os olhos estão por toda parte, sempre esperando um deslize e uma atitude que “não condiz” com um membro da família real britânica. Sozinha, ela transita pelos corredores sombrios e fantasmagóricos, com vestidos luxuosos e jóias caras, mas nada parece valer o preço de passar três dias tendo cada movimento analisado, como se fosse apenas mais uma peça em meio a uma partida complexa de xadrez.
Kristen Stewart não é uma das atrizes favoritas para vencer o Oscar de Melhor Atriz por seu desempenho ao dar vida a Diana, justamente no ano em que a morte da monarca completa 25 anos, apenas pela semelhança gritante que ganhou força pelo trabalho feito pela equipe de figurino, cabelo e maquiagem. Quando retrata os momentos de maior vulnerabilidade, abandono e desamparo que a Princesa do Povo, - a mulher mais fotografada do mundo -, sentiu no fim de seu casamento, a atriz se entrega completamente a uma performance sensível e comovente.
Lady Di já sabe exatamente o script que deve seguir perfeitamente quando está cercada dos membros da realeza, mas o envolvimento do príncipe Charles com Camilla Parker Bowles já é de conhecimento de todos, mas somente ela parece ser um problema real para a coroa. Afetada pela situação e o iminente divórcio, Diana se vê atormentada pelo fantasma da ex-rainha Ana Bolena, também deixada de lado pelo marido e executada sob a acusação de adultério. Em muitos momentos, ela teme ter o mesmo destino da monarca.
A pressão para estar sempre seguindo as tradições seculares, a ordem e os altos padrões exigidos pela família real, afeta completamente sua saúde mental. Todo o esforço para se manter sã nos ambientes sufocantes e claustrofóbicos de um castelo tão grande e frio, tiram pouco a pouco, o brilho e a vitalidade de Diana.
“Spencer” é construído em torno de Diana, feito para Kristen Stewart se destacar no papel como uma alma livre presa nas amarras da realeza. O roteiro de Steven Knight não deixa de mostrar que a princesa seguiu o casamento e a vida que a atormenta pelo amor incondícional que ela sente por William e Harry. Tudo que ela mais quer ali é o equilíbrio e que os herdeiros tenham uma infância como as outras crianças, que também possam abrir seus presentes na véspera de natal, por exemplo.
Mesmo sendo observada, fotografada e admirada o tempo inteiro, é fácil para a princesa cair nas armadilhas mentais que afetam sua saúde, e esquecer seu verdadeiro valor e grandiosidade ao longo dos três dias. Nesta fábula, ela se perde e se reencontra, resgata sua essência e vive seu breve final feliz como quem sempre foi, Diana Spencer.