Florence Pugh rouba a cena em filme que não é bem a despedida que Natasha Romanoff merecia
A Viúva Negra, uma das personagens mais queridas pelo público do Universo Cinematográfico da Marvel, finalmente tem um filme pra chamar de seu. E a produção pode ter demorado mais do que o esperado para ser lançada, mas pelo menos se propõe a resolver traumas do passado da personagem e ainda vislumbra o futuro a partir do legado deixado por ela.
Na linha do tempo do UCM, a trama principal de “Viúva Negra” se situa logo após os eventos de “Capitão América: Guerra Civil”, quando os Vingadores estão separados e Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) recorre à sua antiga família de espiões russos para destruir, de uma vez por todas, Deykrov (Ray Winstone, de “Os Infiltrados”), o líder da Sala Vermelha, programa que recruta jovens garotas para torná-las futuras espiãs.
Um dos maiores méritos do filme está justamente em nos apresentar à pequena Natasha e sua família, na Ohio de 1995. Os primeiros minutos de “Viúva Negra” são misteriosos e intensos, com uma breve apresentação dos pais adotivos de Natasha: Alexei (David Harbour, de “Stranger Things“) e Melina (Rachel Weisz, de “A Favorita”).
Passada a introdução – que dura longos 40 minutos -, “Viúva Negra” volta a focar na adulta Natasha e em seu encontro com sua irmã de criação, Yelena (Florence Pugh, de “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite”). A sintonia entre ambas é outro grande trunfo do longa e, embora elas não estejam sempre no mesmo ambiente, quando estão, a interação é puro deleite, principalmente pela forma com que Yelena zomba da vingadora Natasha e de suas poses de super-heroína.
Se por um lado o filme de Cate Shortland (“A Síndrome de Berlim”) acerta ao nos apresentar o passado de Natasha – e resolvê-lo -, dando background para uma personagem que foi assumindo seu protagonismo dentro do UCM, por outro lado, “Viúva Negra” falha exatamente por não ser a despedida digna que Scarlett e sua vingadora mereciam.
Embora esteja encaixado na linha do tempo do UCM, “Viúva Negra” parece um filme isolado do franquia, mesmo fazendo referências a ela. O maior problema é que o filme não consegue se assumir como um capítulo à parte. Melhor, a história contada soa genérica, falta identidade e uma autonomia que a Natasha sempre evocou.
É triste notar como a personagem parece escanteada em alguns momentos – note como os novos personagens são supervalorizados dentro de um filme que não é deles. A Marvel dá uma história genérica para Natasha – ainda que a resolva – e lança os olhos para futuras produções que podem vir a existir. Dessa forma, “Viúva Negra” é um filme que serve a toda uma estrutura montada por Kevin Feige há anos.
E o maior problema disso está tanto na direção de Cate Shortland quanto no roteiro assinado por Jac Schaeffer (“WandaVision“). Ora, é de se esperar que uma diretora tome as rédeas de um filme sobre uma heroína, o que não acontece aqui. Recentemente, vimos em “Mulher-Maravilha”, “Aves de Rapina” e em outro filme da Casa das Ideias, “Capitã Marvel”, histórias nas quais a narrativa feminina, de alguma forma, tomava a dianteira. Em “Viúva Negra” essa ausência é sentida.
Em tempos onde as séries da Marvel estão cada vez mais fazendo sucesso com os fãs, “Viúva Negra” chega atrasado e tenta pedir passagem, nem que seja para darmos um breve tchauzinho a Scarlett Johansson e Natasha. Não é o adeus que queríamos, nem o adeus que elas mereciam.
Ao final, “Viúva Negra” é apenas mais um filme de ação da Marvel – com cenas de ação nem tão bem filmadas e visualmente confusas -, com boas doses de humor – com David Harbour servindo como um ótimo alívio cômico – e que chega a flertar com uma trama de espionagem, mas que é tão genérica quanto a de “Missão: Impossível 2”.
Felizmente, o longa nos apresenta a uma Florence Pugh que rouba a cena, deixando para os entusiastas da Marvel uma personagem que pode honrar o legado deixado por Natasha Romanoff. Inclusive, fique até o final dos créditos. Você já sabe o porquê.
Além de chegar aos cinemas, nesta quinta-feira (8), “Viúva Negra” também estreia no Disney+, na sexta (9), na modalidade Premier Access, com o valor adicional de aluguel de R$ 69,90, como foi feito nas estreias de “Raya e o Último Dragão” e “Cruella”.