Adaptado da peça da Broadway, musical chega aos cinemas nesta quinta-feira (11)
Eu nunca havia entendido o apelo de "Querido Evan Hansen". Vi dezenas de fotos de um garoto - geralmente Ben Platt, da trilogia "A Escolha Perfeita" - com camiseta azul e um gesso no braço circulando pela internet, pesquisei um pouco e vi que as músicas eram da dupla Benj Pasek e Justin Paul, mesmo responsáveis por "La La Land: Cantando Estações" e "O Rei do Show", e por aí vai.
Ainda assim, nunca fui tão longe a ponto de realmente entender a obsessão das pessoas, especialmente os mais jovens, por esse musical. Porém, assistindo à adaptação cinematográfica de "Querido Evan Hansen", que chega aos cinemas a partir desta quinta-feira (11), é possível entender completamente. O que também fica claro é que talvez essa seja uma produção que nem mesmo deveria existir.
Em "Querido Evan Hansen", Evan (novamente interpretado por Ben Platt, em uma maquiagem extremamente assustadora para parecer mais jovem) é um garoto de 17 anos, que sofre de depressão e ansiedade. Para ajudá-lo, o seu terapeuta sugeriu a tarefa de escrever cartas para si mesmo, como uma forma de desenvolver suas habilidades sociais, além de trazer mais positividade para a própria vida.
O exercício acaba se provando bastante difícil para Evan, mas ele acaba exprimindo uma carta de si mesmo. No entanto, o bilhete acaba indo parar nas mãos de Connor Murphy (Colton Ryan), um jovem excluído e vítima de bullying no colégio, horas antes de ele tirar a própria vida. Logo, a carta de Evan se torna a carta de despedida do rapaz. Ou, ao menos, é isso que a família de Connor pensa.
Pressionado, Evan não consegue mentir para a mãe do rapaz, vivida por Amy Adams ("A Chegada"), e, de repente, de um rapaz com problemas para socializar, ele se transforma em um exímio mentiroso e começa a inventar toda uma história ao lado de seu melhor amigo de toda a vida, Connor. E é aí que tudo desanda.
Não me entenda mal: "Querido Evan Hansen" não é de todo ruim. Tem uma mensagem bonita, é emocionante em diversos momentos e nos faz torcer por Evan, para que ele melhore, para que ele não seja um novo Connor e para que as pessoas aprendam a tomar responsabilidade por suas atitudes, já que elas podem acabar, literalmente, com a vida de alguém.
Assim como o livro/filme de sucesso "As Vantagens de Ser Invisível", de Stephen Chbosky - responsável pela direção de "Querido Evan Hansen" - e a (terrível) série "13 Reasons Why", a produção trata de sentimentos comuns a adolescentes e jovens, o que gera identificação, por isso o apelo pela história é tão grande. No entanto, há uma linha muito tênue ao tratar de saúde mental com responsabilidade e "Querido Evan Hansen" fica em uma corda bamba muito perigosa.
É angustiante ver Evan construindo os próximos passos de sua vida em cima de uma mentira, considerando que o garoto sofre com ansiedade e depressão. Conforme novas camadas da história vão aparecendo e você descobre novos fatos da história do personagem - como em uma conversa dele com a mãe, próximo ao final do filme -, fica cada vez mais claro que, se a história fosse verdadeira, poderia ter terminado com uma segunda tragédia.
Eles até chegam a mencionar a possibilidade de Evan tentar fazer alguma besteira contra si mesmo em certo momento, mas não há nenhuma reparação quanto a isso. O garoto precisa encontrar forças sozinho para resolver a própria vida, o que nos faz pensar duas vezes sobre o que estamos assistindo e se aquilo é realmente saudável.
É preciso ver por baixo da superfície, porque incrementado pelas músicas de Pasek e Paul, que são realmente boas e um dos pontos altos do filme, "Querido Evan Hansen" quase passa batido. É triste, mas é alegre. É emocionante e arranca lágrimas. Mas também é irresponsável e pode bater de formas diferentes para diferentes pessoas. Para mim, a experiência não foi tão legal quanto gostaria.
Além de Platt, Ryan e Adams, o elenco de "Querido Evan Hansen" conta com Nik Dodani ("Atypical") como Jared; Amandla Stenberg ("O Ódio que você Semeia") como Alana; Julianne Moore ("Para Sempre Alice") como Heidi, mãe de Evan; Kaitlyn Dever ("Fora de Série") como Zoe Murphy, irmã de Connor; e Danny Pino ("Cold Case: Arquivo Morto") como Larry Mora, padrasto de Connor e Zoe. No Brasil, cópias legendadas e dubladas, com músicas em português, serão distribuídas nos cinemas. Assista ao trailer: